Fátima recebeu, neste 13 de maio, cerca de 200 mil peregrinos. A missa no recinto foi concelebrada por dois cardeais, D. António Marto, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, que participou no conclave que elegeu na quinta-feira o Papa Leão XIV, e o italiano D. Fortunato Frezza, que trabalhou na Cúria Romana e, devido à idade, não participou na eleição do sucessor de Francisco.
Na celebração foi usado um cálice de prata dourada oferecido pelo Papa Francisco ao santuário na primeira deslocação que fez a Fátima, em maio de 2017, por ocasião do centenário dos acontecimentos na Cova da Iria e para canonizar os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.
O Papa Francisco, que morreu em 21 de abril último, aos 88 anos, esteve uma segunda vez no maior templo mariano do país, em agosto de 2023, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
No final das celebrações de hoje, coube ao bispo da Diocese de Leiria-Fátima e também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, fazer a consagração do pontificado de Leão XIV a Nossa Senhora.
“Enquanto esperamos a sua presença, do novo sucessor de Pedro, para orar connosco em Fátima, pedimo-vos que o acolhais e acompanheis com solicitude materna, para que, inspirado pela vossa mensagem aos pastorinhos, possa continuar a lançar ao mundo o urgente grito da paz, com que se nos dirigiu no primeiro dia do seu ministério”, afirmou D. José Ornelas.
Na entrega do pontificado do novo líder da Igreja Católica à proteção da Virgem de Fátima, D. José Ornelas pediu-lhe que dê a Leão XIV “o dom do discernimento para saber identificar e continuar os caminhos da renovação da Igreja” e a “coragem para não hesitar em seguir os caminhos sugeridos pelo Espírito Santo”, além de o amparar “nas horas duras de sofrimento”, a vencer “as provações no caminho da renovação da Igreja”.
“Estamos a vossos pés, os bispos de Portugal e do mundo e esta multidão de peregrinos, no 108.° aniversário da vossa aparição aos pastorinhos, nesta Cova da Iria, para vos consagrar o ministério do atual sucessor de Pedro e bispo de Roma, o Santo Padre Leão XIV”, adiantou.
No momento da consagração, que terminou com uma oração, o bispo de Leiria-Fátima lembrou que “quatro dos últimos Papas fizeram-se peregrinos” a Fátima, referindo estar “bem viva” na memória a presença do Papa Francisco, que morreu em 21 de abril último.
Guerras e migrantes são tema em Fátima
O cardeal Jaime Spengler, que presidiu à celebração, disse hoje que a sociedade atual está marcada pelo medo de guerras e de migrantes, e que os tempos são de autoritarismos e de “fundamentalismos que não promovem a vida”.
“Vivemos numa sociedade marcada pelo medo. Medo de guerras, medo de migrantes, medo de não conseguir levar a termo o caminho de vida assumida, medo de cair doente, medo de morrer, medo uns dos outros”, afirmou.
Na homilia, onde a referência à Virgem esteve sempre presente, o cardeal lembrou que Maria continua a dizer para que não haja medo.
Aos milhares de fiéis, aos quais chamou peregrinos de esperança (tema do Jubileu 2025), o presidente da peregrinação internacional de maio salientou que a esperança é Jesus, defendendo que “progredir na fé, avançar neste itinerário, nesta peregrinação espiritual que é a fé” é seguir Jesus.
O cardeal, arcebispo de Porto Alegre, no Brasil, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano, considerou ainda que a “devoção a Maria não é um capricho religioso”.
“É, antes, uma exigência da nossa vida cristã de batizados e batizadas, de filhos, de filhas. Na nossa prática religiosa e na devoção a Maria, damo-nos conta de que precisamos, também nós, de um coração de mãe, um coração que saiba perceber a ternura de Deus e ouvir as palpitações do coração de todos os seres humanos”, prosseguiu.
O cardeal brasileiro pediu à Virgem de Fátima “a graça de um coração bom” capaz de acolher “sempre e de forma nova”, e pôr em prática o Evangelho, “sobretudo nestes tempos delicados, tensos, complexos”.
“Tempos em que alguns talvez só pensem em si, tempos de autoritarismos de vários matizes, tempos de fundamentalismos que não promovem a vida, tempos em que a casa comum clama por cuidado, tempo carente de abertura para o outro e abertura para a solidariedade, tempo carente de esperança”, acrescentou Jaime Spengler, que terminou a homilia a cantar o refrão do cântico Ave de Fátima, com a participação dos peregrinos.
*Com Lusa
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