Em Lisboa desde as 09:43 no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorre até domingo, Francisco foi recebido no aeroporto pelo Presidente da República, com quem se reuniu em privado, havendo de se reunir de novo a sós com Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, ainda durante a manhã.

Em Belém, após uma cerimónia de boas-vindas na entrada principal do Palácio, com centenas de pessoas nos jardins em frente e com direito a guarda de honra e uma salva de 21 tiros, o Papa fez uma visita de cortesia ao Presidente português, afirmando depois esperar que Lisboa seja uma inspiração para “enfrentar em conjunto as grandes questões” que se colocam à Europa e ao mundo.

Francisco não fez nenhum discurso, mas deixou os votos no Livro de Honra da Presidência da Republica, no qual disse esperar que “Lisboa, cidade do encontro, inspire modos de enfrentar em conjunto as grandes questões da Europa e do mundo”.

O discurso foi feito de seguida, no Centro Cultural de Belém, no âmbito de um encontro com a sociedade civil e o corpo diplomático, a quem falou da necessidade de uma Europa construtora de pontes e pacificadora no Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente.

No primeiro discurso, sobre as guerras no mundo, como na Ucrânia, e sobre a necessidade de paz e o papel que a Europa pode ter, o Papa Francisco criticou também o que chamou de “leis sofisticadas da eutanásia” e falou do aborto. Afirmou que a vida humana está colocada “em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam”.

E dedicou ainda parte da mensagem, em italiano, aos problemas ambientais no mundo, que continuam “extremamente graves”, alertando para o aquecimento dos oceanos, para a destruição da biodiversidade e para a poluição por plástico. “Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?", questionou.

Recolhido na Nunciatura Apostólica, onde à chegada do Centro Cultural de Belém se aproximou dos populares e foi saudando os peregrinos que ali se encontravam, Francisco recebeu ali depois, em audiência, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro, Santos Silva e António Costa, respetivamente.

O último ponto do primeiro dia do Papa em Portugal foi a oração da tarde (Vésperas), a que presidiu no Mosteiro dos Jerónimos, e que juntou bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas a agentes pastorais.

Foi aí que o Papa, antes de regressar à Nunciatura, defendeu que as vítimas de abusos devem ser sempre acolhidas e escutadas, e reconheceu existir desilusão e raiva à instituição, devido aos escândalos.

Francisco disse que o risco, face a estes acontecimentos, é cair na “resignação e pessimismo”, pedindo para que enfrentem “as situações pastorais e espirituais”, e dialoguem “com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir”.

Contra o desânimo e o cansaço pediu, citando a Bíblia sobre o encontro de Jesus com os pescadores, que a Igreja volte a navegar mar a dentro, a lançar as redes, a que juntos levem a pastoral, que salvem pessoas e que não convertam a Igreja numa alfandega, porque nela cabem justos e pecadores.

Mais de um milhão de pessoas são esperadas em Lisboa até domingo para a JMJ, considerado o maior acontecimento da Igreja Católica.