Em entrevista ao jornal Diário de Notícias, João Oliveira, apontado como um dos sucessores de Jerónimo de Sousa na liderança do PCP, afirmou que considera não ter nem as capacidades, nem as “características para ser líder do PCP”.
“Não consigo imaginar isso porque, além de essa questão não estar em cima da mesa, a consideração que é feita a propósito das características que são necessárias para uma responsabilidade dessas, a mim, descansam-me desse encargo”, frisou.
João Oliveira sublinhou que, para se ser líder do PCP, é necessário “um conjunto” de características, porque “ser secretário-geral do PCP não é só participar em debates eleitorais ou fazer campanhas eleitorais, é muito mais do que isso”, tanto “do ponto de vista interno”, como de “tudo aquilo que vai para lá da intervenção eleitoral ou institucional e que tem de ser assumido”.
“Portanto, são coisas para as quais eu, olhando para mim, não tenho características”, reforçou.
Não tendo sido eleito nestas eleições legislativas – concorria pelo círculo eleitoral de Évora, que só elege três deputados, tendo o PS conquistado dois mandatos, e o PSD o terceiro –, João Oliveira deixará de ser o líder da bancada parlamentar do PCP e afirmou que os nomes das três deputadas comunistas agora eleitas estão em cima da mesa para a sua sucessão.
“Essa é uma possibilidade que sempre esteve em cima da mesa e que continua a estar. Temos a Alma Rivera, a Diana Ferreira e a Paula Santos”, frisou.
Quanto aos resultados da CDU – relativamente a 2019, os comunistas passaram de 12 para seis deputados – João Oliveira reconheceu que se trata de um “resultado desafiante e muito exigente”, mas que considerou ser conjuntural.
O líder parlamentar atribuiu a perda eleitoral do PCP à “bipolarização” que se verificou durante a campanha, mas também ao “quadro em que as eleições são precipitadas” e ao “cenário de agigantamento do medo em relação à direita”.
“Estou convencido de que estes resultados eleitorais destas eleições legislativas são resultados conjunturais. Ou seja, nesta conjuntura, com estes fatores todos, provocaram este resultado, mas que mais à frente irão ser diferentes. Estas circunstâncias e este conjunto de fatores que se reuniram neste momento não se irão repetir daqui a quatro anos”, perspetivou.
Frisando que, com a maioria absoluta do PS, os próximos quatro anos vão ser “muito difíceis”, João Oliveira admitiu que a perda de representação na Assembleia da República faz com que o PCP tenha menos condições para que as decisões tomadas no parlamento “sejam coincidentes com aquilo que, no dia a dia, os trabalhadores precisam”.
“Agora isso significa que abandonamos os aspetos essenciais da nossa intervenção e da nossa organização, e também os nossos objetivos estratégicos, em função de poder ter mais votos? Não. A dimensão da nossa intervenção enquanto partido vai muito além da dimensão eleitoral”, frisou.
Perspetivando o seu futuro pessoal, agora que deixará de ser deputado, João Oliveira disse que “existem várias possibilidades”, sublinhando que, de profissão é advogado, e “de consciência e atitude”, é comunista, avançando, por isso, que irá encontrar “o caminho a fazer em função dessas possibilidades e das necessidades que existem”.
“Não tenho nenhuma perspetiva definida relativamente ao que irei fazer deixando de ser deputado, não sou nem funcionário do partido, nem sou advogado, não sou coisa nenhuma. Vou ter de me definir nos próximos tempos para ver o que fazer da minha vida. Mas a minha disponibilidade é continuar a dar contributo à luta que é preciso fazer, sobretudo nestas condições mais difíceis em que ficamos”, disse.
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