Os jogadores franceses Hugo Auradou e Oscar Jegou foram acusados pela procuradora Cecilia Bignert de "abuso sexual", numa acusação agravada pelo participação de duas pessoas, uma tipificação do crime de violação na Argentina.
A informação foi divulgada pelo Ministério Público de Mendoza, província da Argentina, onde teve lugar a alegada violação. Os fatos relatados na acusação terão ocorrido na madrugada de domingo, 7 de julho, após um jogo da seleção francesa contra os 'Pumas', apelido da seleção argentina de rugby.
Auradou, de 20 anos, e Jegou, de 21, não prestaram depoimento e foram confinados num centro de detenção provisória na capital de Mendoza (1.000 quilómetros a oeste de Buenos Aires).
Os acusados permanecerão detidos até a realização de uma audiência, prevista para daqui a 10 dias, para determinar se irão aguardar o julgamento na prisão ou em prisão domiciliar, como se espera que peçam seus advogados, para o que deverão estabelecer residência em Mendoza.
Martín Ahumada, porta-voz do Ministério Público de Mendoza, explicou que os acusados devem cumprir a detenção durante o processo judicial em Mendoza e que não podem ser transferidos para França: "Deve ser aqui. Os crimes são territoriais e foram cometidos aqui."
Após conhecer a acusação, um dos advogados de defesa, Germán Hnatow, disse aos jornalistas que os jogadores franceses, que afirmam que houve consentimento e negam ter agredido a suposta vítima."Estão bem e seguros de sua versão", sublinhou.
"Eles estão tranquilos porque sabem que são inocentes no caso, mas é claro que estão preocupados com toda a situação que tiveram que enfrentar", acrescentou o advogado.
Por outro lado, Mauricio Cardello, um dos advogados da mullher que apresentou queixa de violação, disse à AFP que a equipa está "satisfeita com a acusação", mas não descarta "pedir uma ampliação", embora isso não aumente a pena.
"Pode ampliar-se em relação à privação ilegítima de liberdade. Mas isso não mudaria a equação: o mínimo da pena do crime imputado é tão alto [oito anos] que absorveria a privação ilegítima de liberdade", afirmou Cardello.
Enquanto isso, a França prepara-se para enfrentar a seleção argentina de rugby neste sábado em Buenos Aires, após ter vencido o Uruguai na quarta-feira em Montevidéu.
O treinador francês, Fabien Galthie, admitiu nesta sexta-feira em conferência de imprensa em Buenos Aires que o caso afetou a equipa: "É um cataclismo, um trauma".
O que aconteceu na madrugada de 7 de julho?
Após o jogo de sábado passado, 6 de julho, vários jogadores da seleção francesa foram ao bar Beerlin, onde terão consumido uma quantidade significativa de álcool, de acordo com um empregado do local que pediu para ter sua identidade preservada.
No entanto, Andrés Civit, proprietário da Beerlin, disse à AFP que os dois jogadores agiram "como qualquer outro consumidor habitual". "Não sei se ficaram bêbados, não vi ninguém rastejando", acrescentou.
Natacha Romano, advogada da mulher, disse à AFP que a sua cliente conheceu Auradou num bar de Mendoza na madrugada de domingo e depois foi com ele ao Diplomatic Hotel, onde os jogadores estavam hospedados.
Segundo o seu relato, depois de entrar no quarto, o jogador "agarrou-a, atirou-a para a cama, começou a despi-la e bateu-lhe com violência feroz", tendo abusado sexualmente pelo menos seis vezes, descreve Romano.
Uma hora depois, Jegou entrou e "fez o mesmo selvagemente", acrescentou a advogada.
Natacha Romano acrescentou que a mulher "tem cicatrizes nas costas, mordidas, arranhões, marcas nos seios, pernas e costelas", além da marca de um soco no rosto.
Se forem considerados culpados, as jovens promessas do desporto francês podem receber penas de até 20 anos de prisão.
A pena contra Auradou pode ser maior porque a sua acusação inclui a repetição do crime, explicou uma fonte da Procuradoria.
Descompensação geral
Auradou e Jegou foram detidos na segunda-feira em Buenos Aires para evitar que deixassem o país e na quinta, foram transferidos à Mendoza.
No mesmo dia, a denunciante foi hospitalizada depois de sofrer um transtorno chamado "hipotimia" e "uma descompensação geral do corpo como resultado de tudo o que aconteceu", disse Romano.
"Quando viu os relatórios, ficou angustiada, entrou em um estado de choque total e desmaiou, sobretudo pelas lesões que a tomografia mostrou", declarou.
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