A carta surge na sequência de novas ameaças, nomeadamente da organização extremista islâmica Al-Qaeda, contra a Charlie Hebdo, três semanas após o início do julgamento do atentado contra o jornal que fez 12 mortos, em 2015, e da republicação das caricaturas de Maomé, em 02 de setembro, condenada por vários países muçulmanos.
Em declarações à agência de notícias France-Presse (AFP), o responsável do semanário, Riss, disse que a revista satírica francesa tinha sido "mais uma vez ameaçada por organizações terroristas", em pleno julgamento dos atentados de janeiro de 2015", com as ameaças a visar também "todos os meios de comunicação e mesmo o Presidente".
"Achámos necessário sugerir aos meios de comunicação social que pensassem na resposta coletiva que merecia ser dada a esta situação", explicou, sem especificar a natureza das ameaças.
"Graças à mobilização histórica dos meios de comunicação social franceses, ao publicar hoje esta carta aos nossos concidadãos, queremos enviar uma mensagem poderosa em defesa do nosso conceito de liberdade de expressão", explicou o editor do semanário.
Na carta aberta, intitulada "Juntos, vamos defender a liberdade", alerta-se para a necessidade de defender a liberdade de expressão contra os ataques de que é alvo.
"Hoje, em 2020, alguns de vós estão a receber ameaças de morte nas redes sociais quando expõem opiniões. Os meios de comunicação social são abertamente visados por organizações terroristas internacionais. Os Estados exercem pressões sobre os jornalistas franceses [considerados] 'culpados' de publicarem artigos críticos", pode ler-se no documento.
"É todo o edifício jurídico construído ao longo de mais de dois séculos para proteger a liberdade de expressão que está sob ataque, como nunca esteve durante 75 anos. E desta vez por novas ideologias totalitárias, por vezes alegando inspirar-se em textos religiosos", prossegue o texto.
"Precisamos da sua mobilização. É preciso que os inimigos da liberdade compreendam que somos os seus adversários resolutos, quaisquer que sejam as nossas diferenças de opinião ou crença", apelaram os signatários, que incluem a imprensa nacional e regional, os principais canais de televisão, semanários e estações de rádio franceses.
Na terça-feira, a diretora de recursos humanos da revista Charlie Hebdo, que se encontra sob proteção da polícia desde 2015, disse que foi obrigada a abandonar a casa onde reside na semana passada, devido a ameaças.
Em declarações à rádio France Info, Marika Bret referiu que, "perante a gravidade das ameaças", que não foram detalhadas por motivos de segurança, a polícia lhe comunicou, na semana passada, "que tinha dez minutos para preparar uma mala" e abandonar o edifício onde reside.
O processo judicial sobre o atentado contra a revista Charlie Hebdo, no dia 07 de janeiro de 2015, e outros ataques radicais islâmicos que se seguiram, começou em Paris no princípio do mês.
Um total de 17 pessoas morreu durante os ataques levados a cabo pelos irmãos Kouachi e Amedy Coulibaly.
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