A notícia caiu como uma bomba no Reino Unido. O tabloide britânico The Sun fez manchete da edição desta sexta-feira com fotografias que mostram Matt Hancock, ministro da saúde do Reino Unido casado e com três filhos, a beijar Gina Coladangelo, conselheira por si escolhida para um cargo governamental não-executivo.
O The Sun terá conseguido obter imagens CCTV do escritório de Hancock em Whitehall, em Londres, do dia 6 de maio. Ora, escreve o The Guardian que segundo o calendário de desconfinamento do Governo britânico, apenas foi permitido ter contacto íntimo com pessoas fora da própria residência no Reino Unido a partir de dia 17 desse mês.
Hancock já reagiu com pedido de desculpas público. “Eu admito ter violado as regras de distância social nestas circunstâncias. Desapontei as pessoas e lamento profundamente”, lê-se no comunicado emitido pelo seu gabinete.
Os Liberais Democratas, partido na oposição, já pediram pela demissão de Hancock, acusando-o de “hipocrisia” ao ter pedido a pessoas para evitarem contactos e ter beijado alguém que não da sua residência.
No entanto, o ministro recusa abandonar o caro, dizendo-se “focado em trabalhar para guiar este país durante a pandemia”. Hancock pede ainda privacidade para a sua família quanto a este assunto.
O que está em causa, porém, não é apenas a violação de normas sanitárias. O caso está a gerar escândalo porque se soube em novembro de 2020 que Coladangelo, amiga de faculdade de Hancock, foi contratada a pedido do ministro para um cargo de conselheira sem vencimento no Department of Health and Social Care — o equivalente à Direção-Geral de Saúde em Portugal.
Esse cargo, mais tarde, evoluiu para uma posição de diretora não-executiva em part-time a auferir um salário de 15 mil libras por ano. De acordo com o The Guardian, Coladangelo — chefe de marketing da cadeia de lojas Oliver Bonas, detidas pelo marido, e acionista e diretora da agência de lóbi Luther Pendragon — recebeu também um passe para ter acesso ao Parlamento britânico.
São estas suspeitas de clientelismo os motivos pelos quais o partido Trabalhista pede a demissão de Hancock, considerando o caso “um abuso de poder flagrante e um claro conflito de interesses". “A lista de acusações contra Matt Hancock inclui esbanjar dinheiro dos contribuintes, deixar lares de idosos expostos e agora ser acusado de quebrar as suas próprias regras para a covid”, continua o partido, . caracterizando a sua situação como “irremediavelmente insustentável” e pedindo ao primeiro-ministro Boris Johnson para demiti-lo.
Uma fonte governamental garantiu à BBC que o processo de contratação de Coladangelo foi “feito de forma usual” e “seguiu o protocolo correto”. Também o ministro dos Transportes, Grant Shapps, saiu em defesa do colega, dizendo que qualquer contratação para o Estado tem de passar por um processo "incrivelmente rigoroso" e que "não havia atalhos", recusando-se a comentar mais sobre um assunto "inteiramente pessoal”.
Para já, ainda não é sabido se Boris Johnson vai manter o seu ministro ou deixá-lo cair. A conferência de imprensa diária em Downing Street foi adiada por uma hora.
As últimas semanas têm sido particularmente duras para Hancock. Além da subida de casos no Reino Unido, o ministro tem sido alvo das alegações de Dominic Cummings, ex-assessor do Governo que o acusa de ter mentido no exercício do cargo em relação à pandemia e de ter cometido erros fatais, como as falhas no sistema de testes que fizeram com que pacientes com o vírus fossem transferidos de hospitais para lares de idosos.
Posteriormente, publicou imagens de alegadas mensagens trocadas com Boris Johnson onde este classifica Hancock como “completamente inútil” no tratamento da pandemia.
No início da pandemia, em maio de 2020, o cientista Neil Ferguson, um dos principais conselheiros do Governo, foi forçado a demitir-se após receber em sua casa uma mulher, alegadamente amante, durante o primeiro confinamento em Inglaterra.
O Reino Unido, que atualmente regista uma nova vaga da pandemia causada pela variante Delta, registou 16.703 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, um máximo desde 06 de fevereiro, e totalizou 128.048 mortes desde o início da pandemia, o número mais alto na Europa.
*com Lusa
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