Gershkovich, que tem 32 anos e é repórter do The Wall Street Journal, foi detido pelos serviços de segurança russos (FSB) enquanto fazia uma reportagem em Ecaterimburgo e desde então permanece detido na famosa prisão de Lefortovo, em Moscovo.
Washington e Moscovo indicaram que estão em contacto para conseguir uma troca de prisioneiros que permita a sua libertação, mas até ao momento não parece haver qualquer acordo.
Num comunicado nesta quinta-feira, o procurador-geral da Rússia acusou o jornalista de trabalhar para a CIA e "recolher informações secretas" sobre o fabricante de tanques Uralvagonzavod, na região de Sverdlovsk, onde foi detido. "A ação penal foi encaminhada para o tribunal regional de Sverdlovsk para análise do mérito", disse o gabinete do procurador, sem detalhar quando o julgamento ocorrerá. O tribunal deverá marcar a data de início do processo.
O jornalista, os seus familiares e a Casa Branca negam as acusações. Já o Wall Street Journal chamou ao anúncio "escandaloso". "Evan Gershkovich enfrenta uma acusação falsa e sem sentido. A decisão da Rússia de realizar um julgamento fraudulento é, como era de se esperar, muito dececionante e não deixa de ser menos escandalosa por isso", declararam, em comunicado, a editora-chefe, Emma Tucker, e os principais executivos do jornal.
A direção do jornal acrescentou que espera que o governo dos Estados Unidos “intensifique os esforços para conseguir a libertação de Evan”.
Por seu lado, os Estados Unidos afirmaram nesta quinta-feira que as acusações contra Gershkovich não têm "nenhuma credibilidade". "As acusações contra ele são falsas, e o governo russo sabe disso. Ele deveria ser libertado imediatamente", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também afirmou que o jornalista "deveria ser libertado".
O repórter, que trabalhou para a AFP em Moscovo em 2020 e 2021, rejeita as acusações de "espionagem", que podem resultar em até 20 anos de prisão. Gershkovich tornou-se o primeiro jornalista ocidental desde a era soviética a ser preso por espionagem na Rússia.
Moscovo não forneceu anteriormente nenhum detalhe público sobre o caso contra Gershkovich e apenas indicou que o jornalista foi "apanhado em flagrante".
Washington acusou Moscovo repetidamente de prender cidadãos americanos na tentativa de trocá-los por russos detidos no exterior por crimes graves.
O governo dos Estados Unidos declarou que Gershkovich foi detido injustamente, o que significa que, na prática, considera-o um preso político.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que estava disposto a trocar o jornalista por Vadim Krassikov, que cumpre prisão perpétua na Alemanha pelo assassinato de um ex-comandante da guerra da Chechénia em Berlim no ano de 2019.
No início de junho, Putin afirmou que os contactos eram "constantes" entre Rússia e Estados Unidos para chegar a um acordo.
Entre outros cidadãos americanos detidos na Rússia está a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva, presa no ano passado por não se registar como "agente estrangeiro".
O ex-marinheiro Paul Whelan, preso na Rússia desde 2018, também aguarda uma troca e rejeita as acusações de espionagem que lhe valeram uma sentença de 16 anos de reclusão.
A família de Evan Gershkovich declarou este ano à AFP que contava com uma promessa "muito pessoal" do presidente Joe Biden para trazê-lo de volta a casa.
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