No meio de uma concentração contra o racismo, frente à sede da STCP, Nicol Quinayas, de 21 anos, nascida na Colômbia mas em Portugal desde os cinco anos, contou aos jornalistas que a situação por que passou lhe deixou “marcas”.
“Fisicamente já recuperei, já consigo sorrir de orelha a orelha, mas hoje, por exemplo, tive uma noite péssima, tive de arranjar forças cá dentro para vir até aqui e não sei como me vou sentir quando vir alguma farda de seguranças da empresa 2045 de novo e quando passar pelo local da agressão”, assumiu.
Dizendo que ainda não regressou à sua vida normal, nem voltado a andar de autocarro, Nicol só quer que se “faça justiça” e que a verdade seja dita para que episódios como estes não se repitam.
Questionada sobre o que é para si fazer-se justiça, a jovem explicou que seria o segurança não voltar a exercer estas funções.
“Não quero que ele fique sem emprego, mas quero que ele não volte a exercer funções destas porque vivenciar o que vivenciei é horrível”, comentou.
Considerando que as empresas devem dar formação psicológica aos funcionários que exercem este tipo de atividade, Nicol contou que, agora, lhe chegam relatos de outras pessoas que passaram por situações idênticas.
Sobre os factos, a jovem admitiu que passou à frente na fila de espera para o autocarro, mas que só insultou e pontapeou o segurança quando ouviu comentários racistas e ele a tentou tirar de forma brusca.
Revelando ainda não ter sido interrogada por nenhuma entidade, estando a aguardar o desfecho das investigações em curso, Nicol criticou ainda a postura do motorista, que “nada fez”, e a atuação da PSP.
A jovem revelou ainda que esta não foi a primeira vez que foi vítima de racismo, depois de há dois anos um vizinho a ter insultado por esta olhar para ele quando estava a chegar a casa.
A mãe da Nicol, igualmente presente na manifestação, relatou que depois de o vizinho dizer à filha “estás a olhar para onde sua preta”, fugiram com medo do que poderia vir a acontecer.
“Fugimos por medo, mudamo-nos para a casa atual, mas desta vez não quero, não me calo, nem aceito ameaças racistas”, frisou Ângela Morales.
Apelando a quem de poder para ajudar “as muitas Nicol” em Portugal, a mãe da jovem pediu paz, tranquilidade e respeito para com quem vive no país há 18 anos.
“Somos humanos, isto é horrível, só quem passa por isto consegue entender a indignidade, crueldade e revolta”, salientou.
Esta tarde, o Festival Feminista do Porto promoveu uma concentração contra o racismo onde os cerca de 30 manifestantes gritavam “Liberdade é não ter medo”, “Mexeu com uma, mexeu com todas” ou “Qualquer discriminação terá oposição”.
Além deste protesto, está agendado um outro, a 10 de julho, em frente à empresa 2045, entidade empregadora do segurança, para demonstrar “repúdio pela violência, racismo e xenofobia”.
O Ministério Público abriu um inquérito para investigar o caso da jovem agredida, assim como a Inspeção Geral da Administração Interna também abriu um processo.
A STCP anunciou que abriu um "processo interno" para averiguação junto dos seus trabalhadores que estavam de serviço quando a jovem luso-colombiana foi agredida.
Já a empresa de segurança privada 2045 revelou, na passada quarta-feira, ter iniciado um processo de averiguações interno, indicando que o segurança da empresa que alegadamente agrediu a jovem já “não está ao serviço da STCP”.
Por seu lado, a Câmara do Porto condenou de forma "veemente" a agressão, classificando o sucedido como um "intolerável ato de violência racista".
Depois de o caso se ter tornado público, inicialmente pelas redes sociais e depois pelo SAPO24, 'Diário de Notícias' e 'Público', a SOS Racismo condenou a agressão à jovem Nicol Quinayas, que reside em Gondomar, no distrito do Porto.
Nos últimos dias, vários partidos condenaram a agressão e exigiram explicações ao Governo.
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