"Quando ele [Brahim Ghali] se recuperar, compreendemos que esta pessoa irá embora" do país, disse hoje a porta-voz do governo espanhol, depois da reunião semanal do Conselho de Ministros.
Para María Jesús Montero, como é “lógico” e se faz com qualquer outra pessoa que se encontre em Espanha, o que se pede a Ghali “é que coopere com a justiça, como ele fez, prestando declarações”.
Um juiz recusou-se esta manhã, mais uma vez, enviar o líder da Frente Polisário para a prisão como medida cautelar ou a retirar o seu passaporte, considerando que não há "risco de qualquer fuga" ou "mesmo elementos circunstanciais" para acreditar que seja "responsável por qualquer crime".
Mais de um mês após ter entrado em Espanha para ser hospitalizado com a doença covid-19, o presidente da autoproclamada República Árabe Saarauí Democrática (RASD) prestou declarações por videoconferência a partir de um hospital em Logrono (região de La Rioja) no âmbito de dois processos por alegados crimes contra a humanidade, genocídio, tortura e outros.
O líder da Frente Polisário negou ter cometido esses crimes, associando as acusações contra ele a motivos "absolutamente políticos" para "tentar minar a credibilidade do povo saarauí e a sua luta para conseguir a autodeterminação ", afirmou o seu advogado, Manuel Ollé.
A declaração de Brahim Ghali esteve rodeada de grande expetativa mediática por ter lugar no meio de uma profunda crise diplomática entre Espanha e Marrocos e após uma troca de acusações entre os dois países.
Ghali foi ouvido pela justiça depois da apresentação de várias queixas por alegados crimes de genocídio, homicídio, ferimentos, detenção ilegal, terrorismo, tortura, desaparecimentos e crimes contra a humanidade.
A sua presença em Espanha provocou a fúria de Marrocos, que anexou o Saara Ocidental nos anos 1970 e, tudo indica, levou à chegada há duas semanas de milhares de migrantes ilegais - muitos deles crianças não acompanhadas – ao enclave espanhol no norte de África de Ceuta, que faz fronteira com Marrocos.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, considerou na segunda-feira que era "absolutamente inaceitável" que Marrocos tenha conseguido "atacar as fronteiras" de Ceuta com o assalto de mais de 10.000 pessoas como forma de protesto contra um problema de política externa.
"Não é admissível que um Governo diga que se ataquem as fronteiras, que sejam abertas para que 10.000 pessoas possam entrar num país vizinho devido a desacordos e discordâncias de política externa", salientou Sánchez em resposta a uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino.
Marrocos tinha divulgado pouco antes uma declaração oficial onde afirmava que a crise entre os dois países não se devia ao facto de o líder da Frente Polisário estar internado num hospital espanhol, mas sim à posição espanhola sobre o Saara Ocidental.
"A crise não está ligada ao caso de um homem (...). É, antes de mais, uma história de quebra de confiança e respeito mútuo entre Marrocos e Espanha. É um teste para a fiabilidade da parceria bilateral", de acordo com o texto publicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino.
Para Sánchez, Marrocos "não deve esquecer que não tem melhor ou maior aliado na UE do que a Espanha", que é um "interlocutor essencial e privilegiado" com a Europa.
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