Um alto funcionário saudita preferiu aquilo que foi considerado uma ameaça de morte a Agnès Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias das Nações Unidas, após a sua investigação do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2019.
Numa entrevista ao britânico The Guardian, Callamard afirmou que uma colega da ONU a tinha alertado em janeiro de 2020 que um alto funcionário saudita a tinha ameaçado duas vezes, numa reunião com outros altos funcionários da ONU em Genebra. Caso Callamard não fosse repreendida pelas Nações Unidas, o funcionário iria "tratar-lhe da saúde" ["take care of her"].
Questionada pelo jornal como é que o comentário tinha sido interpretado pelos colegas, a investigadora respondeu: "[Como] uma ameaça de morte. Foi assim que foi interpretado".
Aprofundando o assunto, explicou que na reunião de "alto nível" entre os responsáveis sauditas e membros da ONU, os primeiros fizeram saber da sua raiva face ao trabalho da relatora, acusando-a de receber dinheiro do Qatar. Foi então que um dos membros da comitiva de Riade na reunião terá dito que recebeu telefonemas de indivíduos que estavam preparados para "tratar-lhe da saúde".
O seu relatório para a ONU, de 100 páginas, publicado em junho de 2019, concluiu que existiam "provas credíveis" de que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e outros altos funcionários sauditas, estavam ligados à morte de Jamal Khashoggi. Mais, pediu sanções internacionais contra a monarquia saudita e o prosseguimento das investigações sob os auspícios do organismo internacional.
Agnès Callamard, de nacionalidade francesa e especialista em direitos humanos, vai assumir este mês o cargo de secretária-geral da Amnistia Internacional.
A 2 de outubro de 2018, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, radicado nos Estados Unidos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, para tratar de documentos necessários para o casamento com uma cidadã turca.
O jornalista não voltou a sair do consulado, onde foi morto por agentes sauditas provenientes de Riade, e que regressaram à Arábia Saudita logo após o assassínio.
O julgamento de 11 suspeitos pelo assassínio começou no início de janeiro, na Arábia Saudita, e o procurador-geral solicitou a pena de morte para cinco deles.
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