“A pedido do Presidente, Volodymyr Zelensky, peço oficialmente consultas imediatas dos membros do Conselho de Segurança da ONU, nos termos do artigo 6 do memorando de Budapeste”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, na rede social Twitter.
O pedido ucraniano surge numa altura em que o Ocidente acusa Moscovo de pretender invadir a Ucrânia, junto a cujas fronteiras estão concentrados mais de 190.000 soldados e equipamento militar, e cujos processos de mediação, em particular francês e norte-americanos, se encontram num impasse.
A reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU tem como base os memorandos de Budapeste, acordos assinados pela Rússia em 1994 que garantem a integridade e a segurança de três ex-repúblicas soviéticas, uma das quais a Ucrânia, em troca do abandono das armas nucleares herdadas da União Soviética.
Durante a guerra da Crimeia, em 2014, que culminou na anexação pela Rússia daquela península ucraniana, Kiev já tinha invocado esse memorando para recordar a Moscovo os seus compromissos em matéria de fronteiras, mas o documento não prevê quaisquer medidas vinculativas.
A última reunião do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia, realizada a 01 de fevereiro, a pedido dos Estados Unidos e contra a vontade da Rússia, transformou-se num confronto direto entre Washington e Moscovo.
Entretanto, o Presidente russo, Vladimir Putin, fez saber que anunciará hoje a sua decisão sobre o reconhecimento da independência das autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, situadas no leste da Ucrânia — uma decisão que poderá pôr fim ao processo de paz desse conflito.
“Ouvi as vossas opiniões. A decisão será tomada hoje”, disse o líder do Kremlin aos membros do conselho de segurança russo, no final de uma reunião alargada que decorreu ao início da tarde e foi transmitida em diferido pela televisão russa.
Os dirigentes dos dois territórios separatistas do leste da Ucrânia — Donetsk e Lugansk — apelaram hoje ao Presidente Putin para reconhecer a sua independência e estabelecer uma “cooperação em matéria de defesa”.
A Rússia é considerada a instigadora do conflito no leste do território ucraniano e a patrocinadora dos separatistas, tendo a guerra eclodido há oito anos, na sequência da anexação russa da península ucraniana da Crimeia, após a chegada ao poder de pró-ocidentais em Kiev, no início de 2014.
Por seu lado, Moscovo acusa as autoridades ucranianas de minar os acordos de paz de Minsk sobre o conflito que opõe a Ucrânia aos separatistas pró-russos, datados de 2015.
Na reunião do conselho de segurança russo, Putin afirmou hoje que não existe qualquer perspetiva de aplicação desses acordos, acusando novamente Kiev de os sabotar.
“Vemos bem que eles não têm absolutamente qualquer hipótese”, sustentou.
Esta observação seguiu-se a uma apresentação do seu encarregado das negociações de paz na Ucrânia, Dmitri Kozak, segundo quem o processo negocial “está em ponto morto desde 2019” e “nunca” as autoridades ucranianas aplicarão os acordos.
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