O Livro de Candidatura de Leiria, com título “Curate the commons — Curar o comum”, foi depositado para envio num posto dos correios de Leiria às 12:27, hora simbolicamente escolhida pelo 12, relativo ao ano da última Capital Europeia da Cultura em Portugal, Guimarães 2012, e o 27 da próxima atribuir a Portugal, em 2027. O ato de entrega foi descrito pelo coordenador da candidatura como “um parto que fizemos todos”.
“Fazendo contas, estamos a meio do caminho. Se tivermos o título serão seis anos para caminhar para uma CEC; se não tivermos, estamos a caminhar para o aprofundamento da cultura na nossa cidade e no território de uma forma que jamais tínhamos pensado”, resumiu Paulo Lameiro.
Para o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, o momento de hoje é “resultado de um esforço muito grande de transformação que Leiria sofreu na última década”.
“É a confirmação de que quando se trabalha com entusiasmo, estratégia, sacrifício, unindo as pessoas em rede, conseguimos mudar o território e a vida das pessoas através da cultura”, resumiu o autarca.
Para Gonçalo Lopes, o que Leiria tem para oferecer “é merecedor de um palco europeu e mundial”, destacando “as escolas de dança e os grupos de música, que se espalham por todo o mundo, seja de música mais moderna ou mais tradicional”.
“Temos uma dimensão muito maior, o que faz com que esta candidatura seja muito oportuna”, porque, depois de Lisboa e do Porto, “em Portugal não há ninguém que consiga juntar tanta população, tanto património cultural construído, tantos agentes culturais”, como o território representado pela candidatura de Leiria.
Contudo, mais do que mostrar o que têm os 26 municípios do projeto, importa “a capacidade que temos de mostrar a Europa que somos”, referiu Paulo Lameiro.
“Uma CEC não é para mostrar à Europa o que temos de extraordinário. Não vamos ser avaliados por isso. [A candidatura] É uma montra da Europa nesta cidade”, frisa o coordenador, apontando para a necessidade de envolver a comunidade “numa parceria estreia e intensa com toda a Europa que também somos”.
O lema de Leiria, “Curate the commons — Curar o comum”, decorre de “um caminho longo de auscultação local, a vários ouvidos”, disse Paulo Lameiro.
Lígia Afonso, uma das cinco especialistas convidadas para coordenar o trabalho que redundou no Livro de Candidatura, contou que a ideia de “curar” surge da polissemia da palavra, que vai das águas termais à questão da hospitalidade e de peregrinação. “Somos um sítio de abrigo, de encontro entre diferentes. A Europa é isso e nós somos um protótipo disso. Temos um papel demonstrativo do que deve ser a Europa”.
Num território marcado pelos fogos do Pinhal de Leiria e de Pedrógão Grande ou pela decadência dos centros históricos das cidades, curar também se aplica a “uma paisagem que precisa de ser regenerada”.
“Não é uma questão de vitimização, mas de positivar os acontecimentos que marcaram as pessoas e a paisagem desta região”, explicou Lígia Afonso.
Já a partícula “comum” reflete a aposta no coletivo. “Temos cá tudo, temos as pessoas, as bases todas. Precisamos é de apostar nas pessoas, pô-las a conversar, apostar na coautoria, no trabalho de equipa, de coprodução”, frisou Ana Bonifácio, outra das responsáveis pelo Livro de Candidatura.
Nesse sentido, a candidatura de Leiria promete “não construir infraestruturas novas”, apostando antes em regenerar espaços usufruto e de vivência comunitária, como “coretos, coletividades ou os milhares de trilhos que atravessam a paisagem cársica, da Serra do Sicó, a Aire e Candeeiros e Montejunto”, avançou a arquiteta e artista plástica.
Entregue a candidatura, Leiria aguarda a decisão do júri. “Acreditamos muito que vamos passar à final e também acreditamos que 2027 vai celebrar em Leiria uma grande festa da cultura”, concluiu Paulo Lameiro.
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