Em entrevista à agência Lusa a propósito da XII Convenção Nacional do BE, Catarina Martins fala ainda das eleições autárquicas deste ano e da normalidade com que vê a oposição interna que enfrenta este fim de semana, porque são os “unanimismos” que enfraquecem os partidos e as suas lideranças.
Sobre o caso que recentemente abalou o partido, as acusações de violência doméstica sobre o deputado Luís Monteiro – que as negou e disse ter sido ele a vítima nessa relação - a coordenadora do BE já tinha afirmado esta semana, em entrevista à Antena 1, que estas denúncias nunca devem ser desvalorizadas, considerando, no entanto, que “uma acusação numa rede social não acaba com a presunção de inocência”.
Sem querer falar do caso em particular, Catarina Martins considera que a “decisão pessoal” de Luís Monteiro – abandonou a corrida a qualquer cargo político, incluindo como cabeça de lista à Câmara de Gaia, e mantém-se como deputado – lhe parece “ajustada tendo em conta os factos” que se conhecem.
“Não cabe ao partido tomar uma decisão sobre uma matéria [de]} que o partido não tem nenhum conhecimento e não consegue ter e que não tem nada a ver com o exercício da função diretamente e, portanto, tem de haver o respeito pela decisão pessoal também”, disse.
Para a coordenadora bloquista, a este propósito, “há uma matéria (…) particularmente importante que é a capacidade de as mulheres fazerem denúncia”, já que foi a sua geração que “começou a dar voz à causa da violência contra as mulheres”.
“Mas, na verdade, é uma geração que calou muitas vezes a violência que sentiu”, lamenta, ao mesmo tempo que diz ter “orgulho de estar num partido em que há muitas jovens que não calam”.
Este caminho, para Catarina Martins, deve ser feito e é um “património do Bloco”, do qual o partido se deve “orgulhar e acarinhar”.
“O problema é que tantas vezes as denúncias das mulheres são desqualificadas e não devem ser desqualificadas, devem ser levadas a sério”, apela.
Já em relação à reunião magna, na eleição dos delegados que decorreu esta semana – reduzidos a 343, metade do que seria previsto, devido à pandemia - a moção A, da atual liderança e encabeçada por Catarina Martins, teve uma queda em relação à última reunião magna do partido, já que elegeu 67,9% este ano, depois de em 2018 ter conseguido 83,7% dos lugares.
“Acho que temos feito um trabalho coletivo muito interessante no Bloco de Esquerda. Acho que nos orgulhamos de ter um partido em que a diversidade e a pluralidade de opinião têm muito espaço e muito lugar. É normal as oposições terem de 20 a 30%. Isso tem acontecido em várias convenções”, responde.
Para a líder do BE, este é um bom sinal, uma vez que os unanimismos “é que enfraquecem as direções e os partidos”.
Sobre as críticas vindas principalmente da moção E, promovida pelo movimento da Convergência, e sobre se antecipa uma reunião mais crispada do que as anteriores da sua liderança, Catarina Martins é perentória: “o Bloco teve convenções com vários estilos e nunca faltou combatividade nas convenções do Bloco de Esquerda”.
Já em relação às eleições autárquicas deste ano, a coordenadora do BE antecipa que o partido “tem condições de aumentar a sua presença nas autarquias”, enfatizando o exemplo e os resultados na Câmara de Lisboa, onde depois de conseguir eleger um vereador pela primeira vez, o partido fez um acordo com o PS e ficou com pelouros no executivo.
“Esta afirmação que o Bloco de Esquerda fez nestes quatro anos é muito importante porque as pessoas agora sabem que quer o Bloco ganhe uma autarquia quer não, um voto no Bloco de Esquerda é uma ideia para o seu concelho que anda para a frente”, defende.
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