Um responsável do departamento de Defesa revelou à imprensa - sob anonimato - que o líder do EI "provavelmente não exerce qualquer influência tática sobre a batalha" contra as forças iraquianas em Mossul. "Provavelmente deu orientações estratégicas" aos seus comandantes militares, mas encarregou-os de liderar a batalha, disse.
O Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (SOCOM) e os serviços de Inteligência norte-americanos seguem o rastro de Al Bagdadi, como fizeram com o líder da Al-Qaeda Osama Bin Laden.
Segundo um oficial americano, o EI planeia retirar-se para o vale do Eufrates, situado entre o Iraque e a Síria, quando for expulso dos seus bastiões, Mossul e Raqa.
"Não acredito que tenham renunciado" no esforço de manter o "califado", explicou o oficial. "Têm planos para continuar a operar como um pseudo-Estado no vale do Eufrates" quando perderem o controlo de Mossul, no Iraque, e de Raqa, na Síria.
O EI está muito debilitado, depois de mais de dois anos e meio da campanha internacional contra o grupo extremista. A vitória das forças iraquianas em Mossul é quase certa, segundo especialistas americanos.
Raqa, “capital” do "califado", está isolada dos demais territórios nas mãos dos extremistas, e fontes dos serviços de inteligência dos EUA afirmam que os dirigentes do EI já estão a abandonar a cidade em direção ao vale do Eufrates.
"Provavelmente" estão a reestruturar a sua organização em núcleos distintos para continuarem ativos face ao avanço da coligação, disse o oficial, estimando que o grupo já perdeu "65% do território" que controlava em 2014.
O Pentágono estima que o EI tenha 15 mil homens nas suas fileiras, incluindo "2.500 a oeste de Mossul e na cidade vizinha de Tal Far", "mil" na cidade iraquiana de Hawija e "entre 3.000 e 4.000" em Raqa.
Quem é Abu Bakr al-Bagdadi, o enigmático "califa" do Estado Islâmico?
Nascido em 1971 em Samarra, no norte de Bagdá, Bagdadi, por cuja captura o governo norte-americano oferece 10 milhões de dólares, é um dos homens mais procurados do mundo.
Apesar do grande aparato de propaganda do EI, que divulga uma quantidade considerável de imagens ou vídeos das suas ofensivas, Bagdadi não aparece muito.
"É bastante notável que o líder do grupo terrorista que mais se preocupa com a sua imagem seja tão discreto", afirmou em 2015 Patrick Skinner, analista da consultora Soufan Group.
"Existe algum mistério [em torno de Bagdadi], fruto da sua capacidade de sobreviver a várias tentativas de o fazer desaparecer", referiu Aymenn al-Tamimi, analista do Middle East Forum, em 2015.
Segundo um documento dos serviços secretos iraquianos, Bagdadi tem um doutoramento em Estudos Islâmicos e foi professor na Universidade de Tikrit.
O "califa" teve quatro filhos com a primeira esposa, entre 2000 e 2008, e mais quatro com a segunda.
Numa entrevista ao jornal sueco Expressen, em março de 2015, Saja Al Dulaimi, que foi sua esposa durante três meses, descreveu-o como "um pai de família normal", professor universitário, admirado pelas crianças.
Bagdadi uniu-se à insurreição no Iraque pouco depois da invasão das tropas norte-americanas, em 2003, e terá sido preso num campo americano. Apesar das forças norte-americanas terem anunciado, em 2005, a morte de Abu Dua - um dos seus nomes de código -, ele reapareceu em 2010 à frente do Estado Islâmico no Iraque, braço iraquiano da Al-Qaeda.
Alguns anos depois, conseguiu transformar este grupo na mais potente, rica e brutal organização extremista do mundo, com presença na Síria, em 2013, e no Iraque, em 2014.
Na época, Bagdadi já havia se desvinculado da Al-Qaeda ao rejeitar as ordens do líder deste grupo, Ayman al-Zawahiri, de concentrar-se no Iraque e deixar a Síria para a Frente Al-Nosra.
A sua trajetória é diferente do caminho traçado por Osama Bin Laden, que desenvolveu a Al-Qaeda graças à sua fortuna, e que já era conhecido internacionalmente muito antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, sobretudo por causa dos vídeos em que aparecia.
“A sua ascensão à fama não pode ser comparada com a de outros líderes terroristas mais famosos. Bin Laden era conhecido pelo nome", afirmou Skinner. "Bagdadi evita ser o centro das atenções e, nos seus discursos, fala sobre o califado e os seus inimigos, não de si mesmo", completa o analisa do Soufan Group.
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