Numa altura em que a Alemanha aconselha a população a armazenar comida e água para dez dias e a Itália fala em "guerra mundial do pão", o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, Luís Mira, garante que não há motivos para alarme e que não há nem vai haver escassez de alimentos em Portugal. Já os preços, esses vão continuar a subir.
Luís Mira diz que falar de escassez de alimentos em Portugal ou na União Europeia não faz sentido: "O potencial produtivo da Europa está muito aquém daquilo que pode ser. Mudem as regras e os produtores responderão".
"O que a PAC (Política Agrícola Comum) tem feito é criar mecanismos para limitar, para diminuir a produção", diz o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal. E lembra que "na década de 80 a Europa teve um excesso de leite, de carne e de cereais".
Se não há escassez alimentar por falta de produção - há até "produtos agrícolas que se estão a acumular" -, ela pode chegar por causa do aumento dos preços. E quem sofre são sempre os mais pobres, os dois milhões que existem em Portugal e os vários milhões dos países em desenvolvimento, como os da África.
Há três fatores a contribuir para a subida de preços: "A pandemia, a guerra e a seca". Só a guerra levou a uma escalada dos preços da energia e dos combustíveis, o que encarece produção, armazenamento e distribuição. Na agricultura "o gasóleo colorido tem aumentos de 60%, a eletricidade aumentos 700% e o gás natural de 350%", diz Luís Mira. Os fertilizantes, produzidos sobretudo na Rússia, "aumentaram entre 50% e 150%".
E é aqui que os governos têm de entrar. O deputado Pedro do Carmo, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas e secretário Nacional do PS, assegura que "estamos muito preocupados" e "a minimizar os impactos", e concorda que "tem de haver uma resposta imediata para o armazenamento, para alguma compensação dos fatores de produção" e fala em medidas anunciadas "para aumentar a produção de cereais".
No limite, a Comissão Europeia pode fazer como fez com as vacinas, sem sequer ter de mudar legislação, e comprar determinados produtos por atacado para garantir preço e quantidade para os 27 Estados-membros. Será que vai acontecer?
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