Luís Monteiro, deputado do Bloco de Esquerda e candidato às eleições autárquicas pelo partido à Câmara de Vila Nova de Gaia, está a ser acusado de violência doméstica. A acusação partiu de uma ex-namorada que expôs o caso no Twitter. O próprio dirigente reagiu depois na mesma rede social para refutar as acusações.
A alegada vítima, Catarina Alves — que entretanto mudou as definições da sua conta para privado, não sendo possível ver os seus tweets — começou por referir que “protegeu” o “agressor para não perder amigos”, mas numa publicação subsequente deixou cair o véu: “Podem chamar-lhe Luís Monteiro, a mim chamam-me louca”.
No seguimento da publicação, Catarina Alves adiantou mais pormenores quanto ao que se terá passado. “As lágrimas são só por não ter entrado na esquadra no dia em que fiquei à frente dela com o corpo marcado de cima a baixo, acabada de escapar de uma quase morte”, escreveu.
A ex-militante, que entretanto desvinculou-se do BE, acusa ainda membros do partido de não a apoiarem. “Não acho que seja possível inventarem mais rumores ou insultos do que os que já criaram naquele nucleozinho”, atirou, lamentando também não ter reagido mais cedo pois “homens ficam do lado de homens sempre.”
Ao jornal Público, a alegada vítima detalhou o que se terá passado entre ela e Luís Monteiro. De acordo com Catarina Alves, as agressões remetem a 2015, tendo os comportamentos violentos tido início no verão desse ano.
Depois de um episódio particularmente violento — em que depois de múltiplas agressões terá sido ameaçada com uma estatueta — a alegada vítima terá ponderado ir à polícia, mas não o fez por “ acreditar que isto iria ser uma situação isolada”. No entanto, as agressões terão continuado, mas Catarina Alves terá mantido silêncio para não afetar o partido.
Catarina Alves deixa ainda acusações de conivência, afirmando que “múltiplas pessoas dentro do Bloco de Esquerda souberam o que ele fez”, mas reforça também que este “não deixa de ser um partido de esquerda, repleto de militantes feministas que dedicam as suas vidas a estas causas”. “Muita gente dentro do Bloco estará agora horrorizada com a notícia e não deixará de me dar a mão a mim e a todas as vítimas de abusos”, frisou.
Horas depois destas publicações, já de madrugada, o visado publicou um comunicado através da sua conta oficial de Twitter, negando as acusações e afirmando ter sido ele alvo de violência doméstica.
Dizendo-se “reiteradamente confrontado com insinuações, que entretanto oscilam com acusações”, Luís Monteiro diz ter hesitado em reagir mas que o fez porque porque não podia evitá-lo. “Tudo o que é dito sobre mim e qualquer reação minha terão consequências políticas que não posso, nem devo, ignorar”, escreve, adiantando que “chegou o momento em que não me é possível continuar calado face ao que se está a passar e no contexto em que estamos”.
“Nunca agredi a mulher em causa, que foi minha namorada de Fevereiro a Outubro de 2015, e nunca agredi qualquer mulher. Condeno qualquer acto de violência mas sobretudo este tipo de violência”, pode ler-se na nota, com Luís Monteiro a ir mais longe e a devolver as acusações a Catarina Alves.
“Nos meses em que tive esta relação fui vítima de agressões sucessivas, violência verbal, ameaças e fui sujeito a um processo do qual não saí ileso”. Jamais contaria o que me aconteceu se não fosse obrigado e felizmente, entre tantos factos infelizes, tenho a sorte de ter várias testemunhas que presenciaram o que relato e que me apoiaram em vários momentos em que precisei”, atira o dirigente no texto. Luís Monteiro suporta ainda as suas acusações com o “conhecimento de que situação semelhante foi vivida por outros homens que mantiveram relações com a mulher em causa”.
“Lamento profundamente tudo o que está a acontecer; pelos meus camaradas, pela Catarina Alves e porque admito que seja um problema que não domina, por mim, por todas as mulheres que estão a viver processos de exposição dolorosos que não deveriam ser misturados com este”, escreve ainda o dirigente, terminando ao referir que se a maioria dos casos de violência doméstica têm mulheres como vítimas, o seu foi diferente,
“Em situações como esta, o princípio da presunção da inocência deve ser relevado em prol da vítima. É verdade que quase sempre a vítima é uma mulher, mas comigo não foi assim”, conclui.
O Bloco de Esquerda já emitiu uma posição oficial quanto ao caso, respondendo ao SAPO24 que "o Bloco mantém a mesma posição em todas as circunstâncias: a violência é inaceitável, as vítimas devem ser protegidas e o recurso à justiça é a forma de apurar factos e punir abusos".
A revelação deste caso surge no seguimento do que eram rumores partilhados quanto a possíveis casos de assédio ou abuso no seio do Bloco de Esquerda nas redes sociais, com algumas pessoas a anunciar ter-se desvinculado do partido. Segundo apurou a revista Sábado, vários militantes saíram perante uma alegada tentativa do partido em minimizar as agressões. A resposta do partido ao SAPO24 quanto a estas questões foi que "nunca foi apresentada qualquer queixa nesses termos" e que a assessoria do partido nunca teve "conhecimento de qualquer situação desse tipo".
[Notícia atualizada às 17:03 — Inclui resposta oficial do Bloco de Esquerda]
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