“Dos 15 comités nacionais da Europa que votaram, apenas um votou em branco, portanto houve uma quase unanimidade”, comentou Luís Raposo, numa conversa por telefone, sobre o decorrer da votação realizada neste encontro que prossegue até sábado.
Nesse dia, a conferência culminará com a votação de uma proposta para a adoção de uma nova definição de museu que está a gerar controvérsia no meio museológico internacional, tendo já recebido várias críticas de um movimento no seio do ICOM que propõe o adiamento da discussão.
O ICOM é a maior organização internacional de museus e de profissionais de museus, criada em 1946, dedicada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, tangível e intangível, através de orientações de boas práticas.
Sobre a votação de hoje, Luís Raposo, que era o único candidato, disse que votaram 15 comités nacionais dos 48 que fazem parte do ICOM-Europa, e que também foi eleita a nova direção deste organismo, composta por representantes da Alemanha, Itália, França, Grécia, Áustria e Portugal.
Na direção, segundo indicou a mesma fonte à Lusa, ficará ainda outro português, Mário Antas, museólogo e responsável do serviço educativo no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
As candidaturas de ambos, para um mandato de três anos, tinham sido apresentadas pelo ICOM-Portugal.
“Estou muito satisfeito com esta reeleição, a título pessoal e profissional porque é muito prestigiante para os museus portugueses”, comentou Luís Raposo, ex-diretor do Museu Nacional de Arqueologia.
O responsável adiantou à Lusa que a sua presidência já tem uma atividade prevista para acontecer em novembro, na Acrópole de Atenas, na Grécia, com uma conferência europeia sobre “O digital nos museus”.
O reeleito presidente do ICOM-Europa revelou, no final de agosto, à agência Lusa que um grupo de 25 países – atualmente 28 – incluindo Portugal, pedirá o adiamento da votação da proposta da nova definição de museu.
“Nós apresentámos uma moção a pedir que essa votação seja adiada pelo menos um ano, para que os membros do ICOM possam apresentar outras propostas, já que o assunto é muito complexo, e a nova definição não é consensual”, disse o museólogo, acrescentando que a proposta pode “criar uma situação bastante negativa de divisão” na instituição.
A proposta foi publicada no sítio ´online´ do ICOM Portugal e introduz novos conceitos, nomeadamente de “dignidade”, “transparência”, “inclusivo”, e “igualdade”, que vão para além do modelo vigente, com mais de cinco décadas.
É o ICOM Europa que tem estado a coordenar esta moção contra a nova definição tal como está, defendendo o seu adiamento para “dar mais tempo à discussão”.
“A nossa ideia é também fazer alterações à atual definição, mas não tão radicais”, disse, como porta-voz de um grupo que inclui, entre outros, países como a Alemanha, a Itália, a França, a Espanha, a Argentina, o Canadá e o Irão.
Na opinião do dirigente, “a nova definição deve continuar a centrar-se na missão primordial dos museus, que é a sua atividade original, e não estar carregada de ativismo e ideologia”.
A nova definição de museu surgiu da iniciativa da atual presidente do ICOM Mundial, a museóloga turca Suay Aksoy, que, depois de tomar posse, criou um grupo de trabalho com o objetivo de pensar em perspetivas do futuro dos museus, ao nível do pensamento estratégico.
Sobre este processo, numa declaração inscrita no sítio ´online´ desta organização não governamental, Suay Aksoy defende que “é responsabilidade do ICOM estar atento aos desenvolvimentos sociais, políticos e económicos, e ter em consideração os muitos desafios atuais e futuros dos museus”.
Acrescenta que a presidência executiva lançou a proposta de redefinição do que é um museu devido à “necessidade de uma atualização, que a ajuste aos tempos atuais”.
O grupo de trabalho proposto pela presidência mundial dedicou-se durante dois anos no projeto, realizando centenas de sessões informais e recebeu mais de 250 propostas anónimas, “sobretudo com teor mais ativista do que técnico, e, além disso, os comités nacionais do ICOM nunca foram formalmente consultados”, criticou Luís Raposo nas declarações à Lusa.
Desse conjunto de propostas surgiu uma versão definitiva que só foi divulgada no final de julho deste ano aos 44 mil membros de 118 países de todo o mundo, representados por comités nacionais, tal como Portugal.
A atual definição, que data dos anos 1970, diz que “o museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”.
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