“Sim, algumas unidades [do exército russo] atravessaram a fronteira para a Ucrânia”, afirmou, numa entrevista concedida à jornalista ucraniana exilada Diana Panchenko – antiga ‘pivot’ do canal pró-russo NewsOne, encerrado por Kiev -, divulgada na plataforma digital YouTube.

Até agora, a Bielorrússia, a aliada mais próxima da Rússia na sua guerra contra a Ucrânia, nunca tinha admitido publicamente que permitira a Moscovo usar o seu território para atacar o país vizinho.

Lukashenko instou a jornalista a perguntar ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “por que razão as tropas russas atravessaram a fronteira entre a Bielorrússia e a Ucrânia pela região de Chernobyl”.

“Nós, russos e bielorrussos, estávamos a realizar manobras militares, em janeiro e fevereiro, manobras comuns, agendadas (…). Quando terminaram os exercícios, a Rússia começou a retirar as suas tropas, as unidades dos distritos militares orientais, e parte dessas tropas começou a atravessar a fronteira com a Ucrânia”, relatou.

Apesar de o Ocidente andar há meses a alertar para as intenções russas de atacar a Ucrânia, “para muitos, foi uma surpresa”, comentou o Presidente bielorrusso.

“E, para nós, foi uma surpresa”, acrescentou.

“Ninguém pode reclamar comigo sobre nada, nenhum soldado bielorrusso atravessou a fronteira. Mas vocês (os ucranianos) provocaram-nos: quatro unidades ucranianas armadas com mísseis Tochka U posicionaram-se junto à nossa fronteira. Muito antes de 24 de fevereiro”, data em que começou a ofensiva russa, sublinhou.

De acordo com Lukashenko, essas unidades ucranianas apontaram os mísseis contra território bielorrusso, mas “os militares russos destruíram-nas quando entraram” no país.

“Acusaram-nos de termos promovido o início da guerra. Mas não, a guerra já estava em marcha. E vocês desencadearam-na, os ucranianos desencadearam-na, a guerra com a Bielorrússia. A guerra económica, acima de tudo”, sentenciou.

Recordou que a Ucrânia decretou um bloqueio aéreo à Bielorrússia “antes de os europeus o fazerem” e apreendeu milhares de vagões com fertilizantes bielorrussos no porto de Odessa, no mar Negro.

O chefe de Estado bielorrusso defendeu que “isto (a guerra) podia e devia ter-se evitado” e frisou que qualquer negociação entre Kiev e Moscovo deve arrancar “sem condições prévias”.

A ofensiva militar lançada há mais de um ano e meio pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.