“Houve uma quebra do partido dominante, o PSD regional será obrigado a fazer uma coligação, isso é inequívoco”, disse à Lusa o politólogo António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, a propósito dos resultados das eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira realizadas no domingo.
De acordo com informação disponibilizada pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, o PSD venceu as eleições legislativas regionais da Madeira, com 39,42% dos votos, mas perdeu, pela primeira vez, a maioria absoluta, elegendo 21 dos 47 deputados.
O PS obteve 35,76% e elegeu 19 deputados, enquanto o CDS-PP, com 5,76% dos votos e três deputados, foi a terceira força política mais votada, seguido pelo JPP, com 5,47% e também três parlamentares. A CDU conquistou um lugar, depois de alcançar 1,80% dos votos.
Logo na noite eleitoral, o líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, anunciou que os sociais-democratas irão negociar com o CDS-PP “uma coligação de Governo”.
Para António Costa Pinto, apesar de os sociais-democratas terem perdido pela primeira vez a maioria absoluta, o PSD continua a ser “um ator fundamental” na política madeirense e os resultados de domingo confirmam a tese de que “há um partido dominante”.
“A incerteza”, continuou, agora é perceber “até que ponto o modelo de coligação não vai justamente reforçar a redistribuição de poder com o CDS-PP”, ou seja, se a coligação “não levará a uma quase fusão entre PSD e CDS-PP”.
Por outro lado, nos próximos anos irá também ser possível perceber se “o PS vai resistir e continuar a ser o principal partido da oposição”, posição que nos últimos oito anos de alguma forma era ocupada pelos centristas, a segunda força política mais votada nas regionais de 2011 e 2015.
Das eleições de domingo, o politólogo destacou ainda o efeito do voto útil, quer no PS, com a CDU a perder um dos dois deputados regionais e o BE a ficar mesmo sem representação parlamentar (tinha dois mandatos), quer no PSD, com o CDS-PP “a diminuir significativamente a votação” e a perder quatro dos sete lugares conquistados em 2015.
José Adelino Maltez, professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, que classificou o sistema da Madeira como “ultra-parlamentarista”, destacou o facto de que deixará de haver “solidão no poder”, depois de o PSD ter perdido a maioria absoluta nas eleições de domingo.
Contudo, acrescentou, agora é preciso ver “o que vai mudar na Madeira em termos psicológicos”, ao fim de 43 anos de poder social-democrata.
“Os jovens políticos que agora têm 40 anos podem estar preparados para coligações, porque é uma realidade que nunca conheceram”, disse.
Por isso, acrescentou, “pode haver alguma turbulência”, pois há “hábitos de muitos anos” que terão de ser alterados e “a Madeira é um universo carregado de muitas tradições”.
“Pode correr bem ou não, depende da maneira como se vão quebrar os velhos hábitos”, salientou.
De qualquer forma, para Adelino Maltez a solução encontrada de uma coligação de governo PSD/CDS-PP será à partida “muito estável”.
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