A atitude da polícia regional “pôs em risco, de maneira irresponsável, o prestígio” das autoridades catalãs, disse o delegado do Governo nacional na Catalunha, Enric Millo numa conferência de imprensa na delegação do Governo em Barcelona. “Os ‘Mossos’ tinham uma ordem policial de impedir a celebração do referendo ilegal, por isso deveriam evitar que se abrissem os denominados centros eleitorais”, afirmou Enric Millo.
“Lamentavelmente não foi assim na maioria dos casos e sobrepuseram questões políticas às profissionais, pondo em risco de maneira irresponsável o prestígio de um corpo policial que é de todos e para todos. Por isso, a Polícia Nacional e a Guardia Civil tiveram de atuar”, acrescentou o representante do Governo de Madrid na região.
O objetivo da ação policial, explicou, não é impedir a manifestação e os protestos das pessoas “que se juntaram livremente para expressar a sua opinião, mas sim apreender o material eleitoral. Por isso pedimos compreensão e colaboração a toda a gente. Vimo-nos obrigados a fazer o que não queríamos fazer”, disse ainda Millo.
Segundo o delegado do Governo, “o Estado de Direito desmantelou o referendo ilegal. Não há referendo de autodeterminação na Catalunha”.
O único objetivo das autoridades é, “exclusivamente, cumprir as resoluções judiciais do Tribunal Constitucional e do Tribunal Superior de Justiça Catalã que dizem que falta respeitar a legislação democrática vigente que nos deu a todos os catalães a convivência em paz, liberdade e igualdade nos últimos 40 anos”, disse.
O referendo, defendeu, é uma prova de que este governo regional está “sequestrado por uma minoria mais radical”.
“Sem vergonha, anunciam um censo universal e que cada um vote onde queira. Não têm nada para uma votação minimamente séria. Agitam as ruas e mobilizam as pessoas para que este desvario ilegal tenha aparência de legitimidade, o que é uma irresponsabilidade descomunal”, salientou Millo. Para o delegado do Governo central, a ‘Generalitat’ está a “colocar em risco a ordem jurídica e pública e a integridade de pessoas, jovens e idosos”, com esta “farsa”.
“É a primeira vez na história em que, a 45 minutos de começar a votação, se mudam as regras de jogo, com urnas opacas, uma metáfora sobre a transparência da sua democracia, sem boletins oficiais, sem listas oficiais, sem sistema de recontagem, sem nenhuma das características que podem fazer parte de uma votação normal”, concluiu.
A Catalunha vive hoje um dia de tensão, com os catalães apoiantes da independência da região a tentar votar num referendo suspenso no início do mês pelo Tribunal Constitucional espanhol e as autoridades de Madrid a tentarem impedir a realização do ato eleitoral com milhares de agentes da polícia e Guardia Civil na rua.
Centenas de eleitores, na sua esmagadora maioria pró-independência, começaram ainda de madrugada a formar filas em frente às escolas onde foram instaladas assembleias de voto – ocupadas há dois dias por populares que queriam garantir a votação de hoje - para evitar que estes fossem fechados pela polícia.
Os Mossos d’Esquadra (polícia catalã) fecharam dezenas de colégios eleitorais em toda a Catalunha, embora em alguns locais se tenham limitado a registar a concentração popular e saído sob aplausos da população.
Já a Polícia Nacional e a Guardía Civil protagonizaram momentos de tensão ao tentar impedir o referendo, tendo mesmo ocupado o pavilhão desportivo da escola em Girona onde deveria votar o líder da ‘Generalitat', Carles Puigdemont, e detido vários manifestantes.
Os opositores à independência, que os estudos de opinião indicam serem maioritários, não participaram na campanha eleitoral nem irão votar, para não darem credibilidade a uma consulta que o Estado espanhol considera ser ilegal.
O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para hoje.
Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
Comentários