"Falta da cópia do cartão de cidadão no envelope", foi este o motivo pelo qual um quarto dos votos dos eleitores a viver no estrangeiro foi anulado, disse ao SAPO24 o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Fernando Anastácio, que confirma que o número de votos anulados é "anormal".
Foram anulados 122.325 votos, de um total de 333.520, ou seja, perto de 36,67% dos votos nos círculos da Europa e Fora da Europa, de acordo com a informação disponível no site da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna.
Nos EUA foram anulados mais de metade dos votos (51,25%), num total de 5.592. Juntos, os três partidos mais votados obtiveram 4.601 votos. Em França foram anulados 36.986 votos, ou seja, a vontade de 43,57% dos emigrantes a viver no país foi ignorada. Para dar uma ideia, o partido mais votado teve ali 15.779 votos. O desastre dos votos nulos repetiu-se um pouco por todos os países.
"É a Lei Eleitoral que determina que seja incluída a cópia do cartão de cidadão no envelope, que tem dentro as instruções que devem ser seguidas pelo eleitor", esclarece a CNE.
Os eleitores residentes no estrangeiro podem optar entre o voto presencial ou voto por via postal. E é nestes últimos que reside o problema: muitos queixam-se de não receber o boletim de voto em casa por a morada não estar atualizada nos cadernos eleitorais ou por falhas no funcionamento dos correios. Sentem-se desprezados e cidadãos de segunda.
Em 2018, o recenseamento automático fez aumentar de cerca de 300 mil para 1,5 milhões o número de eleitores, mas a abstenção na Europa e Fora da Europa continua a ser elevada, apesar de ter descido de perto de 90% em 2022 para 66,42% em 2024. É possível votar presencialmente em apenas 150 localidades, apesar de haver portugueses espalhados por 186 países do mundo. Há quem tenha de percorrer oito, nove e mais horas de automóvel, com a despesa de combustível inerente às suas custas, ou até apanhar um avião para poder votar. Os emigrantes dizem que são eleitores de segunda.
PS e PSD garantem que vão alterar a lei e retirar todos os obstáculos para os os emigrantes possam, democraticamente, exercer o seu direito de voto. Era para ter sido ainda nesta legislatura, mas não foi. Em abril do ano passado, o governo criou um grupo de trabalho para a modernização eleitoral no estrangeiro, com o objetivo aperfeiçoar o voto. Mas no final do prazo, seis meses depois, não tinham sido apresentadas conclusões ou soluções.
"Tendo em conta os vários processos eleitorais que, entretanto, foi necessário preparar (CCP, Parlamento Europeu, Regionais e Legislativas), o grupo de trabalho ainda não teve oportunidade de aprovar as suas conclusões/recomendações", disse o Ministério da Administração Interna ao SAPO24.
Os dois círculos da emigração, Europa e Fora da Europa, elegem quatro deputados (dois cada um). E, numas eleições tão renhidas como estas, a expetativa manteve-se até ao fim: o Chega elegeu dois deputados em cada um dos círculos da emigração, enquanto a AD e o PS elegeram um deputado cada, pelo círculo Fora da Europa e da Europa, respetivamente.
Em resumo, nestas legislativas, a AD ficou com 80 deputados, o PS com 78 e o Chega com 50, sendo o primeiro partido a atingir mais de 60 mil votos pela emigração.
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