Os trinta e um cidadãos foram instalados pela Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) no Hotel Cristal, nas Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, mas a reserva, efetuada através de uma agência de viagens, terminou na quinta-feira, confirmou a agência Lusa junto da unidade hoteleira.
Os 31 cidadãos deveriam ter sido encaminhados pela AIMA durante o dia de quinta-feira, segundo disseram à agência Lusa no local.
“Diziam 'vamos-vos buscar assim que pudermos', depois era daqui a uma ou duas horas, passou para hoje e continua sem aparecer ninguém para nos levar, não sabemos quando, nem para onde”, contou um dos cidadãos.
Em Portugal há 15 dias, ao abrigo de um pedido de asilo político, um angolano, de 27 anos, explicou ainda que o grupo “dormiu a última noite no átrio do hotel, uns nos sofás, outros no chão”.
“Pedimos ajuda à segurança social, disseram que não era com eles, pedimos ajuda da polícia, disseram que não era com eles, a AIMA ou não atendem ou dizem que vêm e não aparecem, não sabemos o que fazer à vida”, acrescentou.
No grupo, que hoje passou o dia à porta do hotel, um paquistanês, de 44 anos, lamenta “ser uma pessoa doente, que precisa de medicamentos”. Diz ainda ter sido “abandonado, tanto pela AIMA como pela segurança social”.
Enquanto esteve alojado no hotel, o grupo realizou as refeições numas instalações da segurança social. Terminada a reserva, deixaram de ter acesso a refeições naquele espaço, tendo hoje ficado sem almoço.
À agência Lusa um dos homens, tunisino, de 27 anos, afirmou que “foi o hotel que hoje ofereceu o pequeno-almoço e à tarde ofereceram a cada um saco com sandes e um sumo”.
Os 31 homens, que pedem para não ser identificados por questões de segurança, temem que “se a AIMA não resolver a situação”, possam “ter que passar a noite na rua".
"Porque o hotel já foi muito bom para nós, mas não tem a obrigação de nos acolher”, afirmou.
Questionada pela Lusa sobre a situação, a AIMA não justificou porque foram estes requerentes de asilo deixados sem alojamento, nem indicou onde irá ser realojado o grupo, que às 18:00 de hoje aguardava na rua, à porta do hotel, que um responsável por este organismo os recolhesse.
Numa reposta enviada por mail, a AIMA esclareceu que o alojamento em unidades hoteleiras foi usado para responder à necessidade de acolhimento urgente de requerentes de proteção internacional, “em virtude da saturação súbita das unidades de acolhimento, designadamente das do Conselho Português para os Refugiados (CPR)”.
Segundo este organismo, desde 29 de outubro de 2023 até à data de hoje, entraram 1.622 pedidos de proteção internacional (803 dos quais em 2024). Durante todo o ano de 2021 entraram 1.537. Em 2022, entraram 1.992. E, em 2023, entraram 2.701.
“Foram adotadas um conjunto de medidas urgentes para fazer face ao crescimento súbito do número de pedidos, nomeadamente assentes na profunda simplificação de procedimentos e no aumento dos recursos humanos afetos a esta área”, explicou a AIMA, concluindo que, “em virtude das alterações introduzidas, espera-se que a normalização do tratamento dos pedidos ocorra até ao final deste mês, incluindo no que respeita à componente do acolhimento”.
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