“Amnistia já!”, foi o grito mais ouvido, a partir das 15:30, quando os manifestantes, na sua maioria brasilienses, começaram a posicionar-se em frente ao trio elétrico que ia acomodando os convidados ‘vip’, como foi caso de Jair Bolsonaro, Michelle, de pastores evangélicos e de parlamentares da extrema-direita brasileira.

De forma a animar o público (cerca de 3.000 segundo a imprensa local) coberto de verde e amarelo, com t-shirts alusivas ao ‘seu mito’, mas também com bandeiras de Israel e dos Estados Unidos, passavam músicas conhecidas do público e alteradas para uma letra alusiva ao ex-presidente.

A música era alternada com discursos religiosos similares a um culto evangélico e de discursos a pedir amnistia e a para dar um novo balão de oxigénio para que Bolsonaro possa concorrer às eleições brasileiras em 2026, já que neste momento se encontra inelegível até 2030 por decisão da justiça brasileira.

Tal como em janeiro de 2023, desceram a emblemática esplanada dos Ministérios, vestidos de amarelo e verde e com bandeiras do Brasil, mas desta vez não até ao fim: um forte contingente policial barrava a entrada na Praça dos Três Poderes.

“É uma marcha pacífica”, disse o Pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo e organizador da manifestação, em cima de um trio elétrico acompanhado por vários parlamentares, por Jair Bolsonaro e pela sua mulher, Michelle.

“O mesmo caminho”, resumiu assim o deputado federal Gustavo Gayer, com outros vários deputados a voltarem aos ‘slogans’ ouvidos ao longo dos últimos cerca de três anos.

“Lula ladrão”, “a nossa bandeira jamais será vermelha”, ou “não ao comunismo”, eram constantemente proferidos tanto pelos parlamentares como pelos manifestantes da marcha que ocorreu sem incidentes.

Victor, de 38 anos e residente em Brasília, estava presente na manifestação de hoje, tal como em outras várias organizadas pelo ex-líder brasileiro, o ‘mito’, para os seus apoiantes.

“Estive 18 dias acampado com a família”, disse à Lusa, referindo-se ao Quartel Geral em Brasília, no qual milhares de ‘bolsonaristas’ acamparam logo a seguir à derrota de Bolsonaro contra Lula em outubro de 2022 para forçar as forças armadas a reverter o resultado das eleições e colocar Jair Messias Bolsonaro no ‘trono’.

Como nada mudava, no dia 08 de janeiro decidiram sair em direção aos três poderes e invadiram e atacaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

Hoje, o objetivo da manifestação era precisamente esse: pedir amnistia para os acusados de crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de direito democrático, dano qualificado e deterioração de património protegido.

Cerca de 1600 pessoas foram acusadas e, entre elas, cerca de 550 já foram condenadas a penas de prisão que variam de um a 17 anos, sendo que o próprio Bolsonaro, e parte do seu núcleo duro, está a responder perante o Supremo Tribunal Federal.

“Supremo é o povo”, gritaram, por várias vezes, os parlamentares que iam discursando ao longo dos três quilómetros feitos em pouco menos de duas horas.

Bolsonaro, que saiu do hospital no fim de semana, após três semanas a recuperar de uma cirurgia ao intestino, estava visivelmente emocionado, ao longo da “Caminhada pela Amizade Humanitária” e durante o seu discurso.

“Estou muito triste (…) mas não vamos perder a esperança”, afirmou.

“Amnistia é um ato político e privativo do Parlamento brasileiro, disse, ao projeto de lei, que a extrema-direita quer votar no Congresso, e que propõe uma amnistia para todos aqueles que participaram em manifestações em qualquer parte do território nacional a partir de 30 de outubro de 2022 até ao dia em que a lei entrar em vigor.

A Câmara dos Deputados ainda não o admitiu para apreciação.