A poucos quilómetros de distância decorria a cerimónia no Tribunal Superior eleitoral (TSE) em que Lula da Silva foi diplomado como futuro Presidente do Brasil.
Mas, nos jardins do Palácio da Alvorada, os ‘bolsonaristas’ aguardavam impacientemente pelo regresso do seu ‘mito’, ao mesmo tempo que apelavam à prisão de Lula da Silva e do presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
“Quando o capitão chama o povo vem”, diz à Lusa Priscila, de 45 anos, que se encontra “na luta há um mês sem faltar” em frente ao quartel-general em Brasília, onde os milhares de manifestantes acampam nesta ‘cidade paralela’ e apelam a um golpe de Estado para impedir a tomada de posse de Lula da Silva em 01 de janeiro.
O acampamento, com tendas a perder de vista mais assemelha-se a uma pequena cidade, que vive e persiste em paralelo ao resto do país, foi montado há mais de um mês, na noite da vitória de Lula da Silva nas presidenciais.
“Supremo é o povo”, grita Paulo de Souza, que deixou o acampamento para vir hoje ao palácio, deixando a garantia de que Lula da Silva não tomará posse graças aos militares. Contudo, diz, se os militares não intervierem, o “povo guerreiro” tomará as ruas.
“É o povo brasileiro resgatando esta nação”, conclui.
Hoje, os habitantes da ‘cidade paralela’ mudaram-se para a frente da residência oficial do Presidente brasileiro, levaram consigo as bandeiras brasileiras e as t-shirts com a cara do ainda Presidente brasileiro, alavancados e entusiasmados com o aparecimento de Jair Bolsonaro na sexta-feira e no domingo.
Nas últimas semanas, o nome de Jair Bolsonaro já não circulava no acampamento no quartel-general em Brasília, onde os apoiantes estavam frustrados com o seu silêncio há mais de um mês.
Tudo mudou a partir de sexta-feira, quando Bolsonaro surgiu nos jardins do palácio.
“Estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada. Quem decide o meu futuro são vocês, quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vai a Câmara e o Senado são vocês”, afirmou Bolsonaro”, afirmou.
No domingo voltou a aparecer nos jardins, mas desta vez não falou. Abraçou uma criança que atravessou o pequeno largo que o separava dos manifestantes e emocionou-se.
“Agora é a hora do cheque mate, o dia D”, grita um dos manifestantes, enquanto apela aos seus companheiros ‘patriotas’ que simulem uma marcha com gritos de guerra, que esperam ansiosamente por um novo aparecimento de Jair Bolsonaro no jardim da Alvorada.
“Media gringa só FOX News”, afirma à Lusa, em tom agressivo, um dos manifestantes presentes, referindo-se ao programa da rede de televisão conservadora norte-americana do apresentador Tucker Carlsson, que tem lançado dúvidas sobre a fiabilidade do processo eleitoral brasileiro e apoiado estas manifestações.
Entretanto, na sede do Tribunal Superior Eleitoral, Lula da Silva recebia a sua diplomação, por ter vencido as eleições presidenciais de 30 de outubro por uma margem estreita, com 50,9% dos votos contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava um novo mandato de quatro anos.
“Este diploma que eu recebi não é um diploma do Lula Presidente, é um diploma de uma parcela significativa do povo que reconquistou o direito de viver em democracia neste país. Vocês ganharam este diploma”, afirmou no início do seu discurso.
Criticando o atual Presidente, Jair Bolsonaro, sem o mencionar diretamente, Lula da Silva disse que a última eleição no Brasil não foi uma disputa entre candidatos de partidos políticos com programas distintos.
“Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo. De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder económico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história”, disparou.
Lula da Silva tomará posse oficialmente a 01 de janeiro de 2023.
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