
Pode ver a apresentação aqui. Este momento decorreu no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria.
Entre as centenas de pessoas no auditório, encontram-se nomes como Álvaro Beleza, Francisco Assis, João Soares, Maria de Belém e Jamila Madeira.
Também marcaram presença o presidente da Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), Álvaro Beleza, o antigo eurodeputado Carlos Zorrinho e o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes.
O antigo secretário de Estado António Lacerda Sales, os atuais deputados Hugo Costa e Pedro do Carmo, também estavam presentes, bem como, os ex-presidentes socialistas da Câmara de Amadora Joaquim Raposo e de Coimbra Manuel Machada, tal como o antigo responsável da Câmara das Caldas da Rainha, o histórico social-democrata Fernando Costa.
No apoio a António José Seguro marcaram também presença o ex-secretário geral da UGT João Proença e algumas patentes do exército e da marinha.
A apresentação começou com um momento de teatro no palco. “É o amor a Portugal que nos une esta tarde. Tal como António José Seguro, também eu, Rafael Bordalo Pinheiro, escolhi as Caldas da Rainha para viver — uma cidade de cultura”, diz o ator. De repente, membros do público começam a ler um poema de Miguel Torga, à vez — incluindo a filha do candidato presidencial.
É depois deste momento que o candidato começa a falar: “É por Portugal que aqui estamos” e agradece a quem lhe transmitiu durante a vida “valores inegociáveis” como a “seriedade”, “sem desvio ou arrependimento”.
São também estes valores que estão na origem do "caminho que iniciamos”, diz, repetindo-os: “Liberdade, igualdade, solidariedade, respeito pelo outro e seriedade. Estes são os pontos cardeais de um percurso que tem uma meta: fazer de Portugal, um país justo e de excelência”.
“Acreditamos que no nosso país pode haver justiça para todos. Diante das incertezas, acreditamos que pode haver segurança. Perante sinais de ódio, acreditamos que pode haver tolerância. Diante da angústia, acreditamos que pode haver esperança”.
Diz também que “todos os democratas são bem-vindos”. “Aqui não há reserva do direito de admissão. Para mim, não há portugueses bons e portugueses maus, portugueses de primeira ou de segunda. Somos um só povo. Uma só nação. Um só Portugal, plural e inclusivo, respeitador das liberdades de cada um e solidário”.
Depois, defende um país onde o progresso económico acompanhe a justiça social, que aposte na igualdade de oportunidades “para evitar que nascer pobre seja uma sentença”, onde “o futuro não emigra”, onde “a política não se encontra separada da ética, nem a ética separada da política”. Defende também que a cultura e o ambiente devem ser eixos essenciais e a dimensão social da democracia.
Para Seguro o próximo Presidente tem uma “missão muito importante”:“Tudo está em mudança. Tudo é incerto. As ameaças surgem de todos os lados. De dentro e de fora. Conheço o país real. Conheço a Europa. Sei o que está em jogo e sei como defender Portugal com firmeza e respeito. Não preciso de aprender no cargo. Chego preparado”.
Apontando o dedo a Gouveia e Melo e a Marcelo refere: “O país precisa de um Presidente que inspire confiança e estabilidade. Que seja referência moral e não ruído mediático. O Presidente deve ser árbitro respeitado, não jogador. Facilitador de consensos, não gerador de clivagens. Sereno, e não distante ou autoritário. O Presidente deve centrar-se na magistratura de influência com causas, agenda própria e vigilância democrática”.
O discurso segue para uma série de causas que vai defender como a criação da riqueza, promovendo entendimentos para “trazer progresso, melhores salários e melhores pensões”. “Pretendo fazê-lo através de uma nova cultura política, baseada no diálogo e no compromisso. Afastando de vez a cultura da tribo e das trincheiras. Focada nas soluções para resolver os graves problemas que afetam os portugueses”.
Diz também não considerar que a revisão constitucional seja prioritária; prioritário, diz, é criar riqueza, promover o acesso à habitação e cuidados de saúde, apoiar as empresas para que os jovens se fixem. E dar um projeto nacional mobilizador ao país.
“Proponho-me e empenhar-me-ei nesse desígnio: um pacto para a prosperidade. Essa será a minha agenda prioritária. Envolvendo todos os partidos políticos, os parceiros sociais, universidades e todos os interessados. Gerir a conjuntura já não basta, nem é maneira de governar. É necessário um projeto nacional, consensualizado, participado por todos, independentemente de quem está no governo. O país tem de ter um rumo. Não pode andar aos zigue-zagues. Portugal precisa de um rumo, não apenas de governo. Precisamos de governos de projeto e não de governos de turnos”, defende. “Tem de haver estabilidade e previsibilidade. Só assim o país gera confiança e atrai investimento”.
Sublinha ainda que o SNS serve para dar cuidados de saúde de qualidade aos residentes, que a escola pública é o garante de mobilidade social, que a imigração é uma vantagem económica mas também humanista e deve ser “organizada, acolhida e integrada”, e que a justiça deve ser célere e eficiente.
“Defendemos o mesmo para os portugueses que emigraram para outros países: que sejam bem acolhidos, bem tratados e bem integrados”.
Para Seguro, cabe também Presidente vigiar o normal funcionamento das instituições, “atualmente, com bastantes bloqueios”. “Portugal ganha quando há equilíbrio entre quem governa e quem vigia. Ganha quando não coloca todos os ovos no mesmo cesto”, sugere, numa altura em que a direita governa.
“Agirei como um Presidente que escuta antes de falar. Que não divide nem impõe, mas constrói entendimentos. Que representa todos, incluindo os que se sentem sós ou esquecidos. Se for eleito, irei ouvir o país inteiro, todas as regiões, de forma permanente. Não me fecharei no Palácio. Consultarei o Conselho de Estado, mas não dispensarei de escutar o conselho do povo. Quero ser um Presidente da República respeitado pelo exemplo. Não haverá um único momento ou tema que nos cause inquietação ou indignação que não mereça de mim o compromisso de pedir explicações, de perguntar a quem tem de ser questionado”, promete. “Existem perguntas que se fazem privadamente, outras publicamente. Comigo não existirão perguntas que fiquem por fazer”.
Seguro assume ainda preocupações fundamentais: compromisso com justiça social e direitos humanos; defesa da democracia e do Estado de Direito; abertura ao diálogo e à concertação política; valorização da cultura, da ciência e da educação; compromisso com a solidariedade internacional e os direitos dos povos, pugnando pela paz na Europa e em Gaza; aposta em políticas que valorizem a remuneração do trabalho afirmação de uma classe média; e defesa da participação de Portugal no centro da integração política europeia.
“Sobre a Europa quero ser muito firme”, anuncia. "A Europa não pode ficar à espera que os EUA mudem, nem pode responder a estes novos desafios pontual e setorialmente. A minha ideia de Europa assenta num princípio claro: problemas comuns exigem respostas comuns”.
“Mesmo que houvesse um passo atrás dos EUA, devemos caminhar para a nossa autonomia estratégica. Sem cortar nenhum diálogo, nem desfazer nenhuma aliança. A Europa precisa de adotar uma resposta comum. (…) Os nacionalismos não são solução. Foram responsáveis pelas maiores tragédias mundiais no século passado”, avisa.
Depois fala sobre as despesas com defesa e pede “cautela”. "Ouvem-se vozes a dizer que necessitamos de mais dinheiro para a defesa e segurança europeia. Recomendo cautela. Em 2023, o conjuntos dos Estados da UE e o Reino Unido gastaram em defesa três vezes mais do que a Rússia. Antes de gastarmos mais, devemos gastar melhor. Através de economias de escala, desenvolvendo tecnologia europeia e criar um sistema científico europeu com aplicação dual: na defesa, mas também noutras áreas, nomeadamente a economia”, pede. “Os gastos em defesa não podem ser feitos à custa da saúde, da educação e da proteção social”.
Ainda sobre o papel do Presidente, defende ainda que a primeira responsabilidade é de “cumprir e fazer cumprir a Constituição”: “A sua exigível independência e isenção, em defesa do interesse nacional, tem nos valores constitucionais o seu suporte estrutural. Vai ainda mais longe: “Embora formalmente Comandante Supremo, um Presidente da República nunca deve procurar exercer influência direta na cadeia de comando militar. Um Presidente respeita a separação de funções entre Presidente, Governo e chefias militares. O Comandante Supremo das Forças Armadas não pode ser visto nem pensado enquanto possuidor de um poder de comando direto, mas enquanto detentor de uma responsabilidade constitucional, de zelar pela legalidade, pela integridade e pela missão cívica das Forças Armadas num regime democrático. Agir com reserva, sobriedade e sentido de Estado, vendo os nossos militares como servidores da paz, da Constituição e do povo português”.
"Afastei-me quando podia dividir. Volto agora para unir"
Já com um discurso longo Seguro afirma que o honra muito ter altas patentes da Marinha, da Força Aérea e do Exército consigo nesta apresentação.
Depois, fala do seu percurso “conhecido”, que assume “por inteiro”.
“Não venho para ser mais do mesmo. Se fosse, outros seriam melhores do que eu”, diz, provocando risos na plateia. “Venho para mudar. Conheço bem o sistema político. Como político e como académico sempre lutei pela sua renovação e pelo seu sentido ético”.
Dá dois exemplos: quando o liderou a reforma que permitiu que houvesse debates quinzenais no Parlamento para exercer “verdadeiro controlo político sobre os governos”, ou quando em 2009 votou “sozinho” contra a lei do financiamento dos partidos políticos que reduziu o controlo da entrada de dinheiro.
Afirma depois com o público em pé: “Afastei-me quando podia dividir. Volto agora para unir”.
“Não venho pedir nada. Venho retribuir muito do que os portugueses me deram, afinal o que sou”, prossegue, falando da sua origem “humilde” com a qual aprendeu “a importância da escola publica, do serviço nacional de saúde e da segurança social”.
“Mandela e Salgueiro Maia, meus heróis, ensinaram-me que a humildade e a igualdade são as raízes da cidadania”. Fala na importância da sua mulher, de Soares e Guterres — “deram sentido à minha ação política com uma visão humanista centrada nas pessoas” –, dos pais, e também dos filhos. “Penso neles, no seu futuro e no dos jovens das suas idades”, diz, e lembra que também que é professor.
“É neste contacto com os jovens que, em particular, mais sobe de tom a minha indignação: é inadmissível um país onde os nossos filhos são reconhecidos no estrangeiro e em Portugal são excluídos ou são obrigados a viver nos mínimos: no salário, na qualidade de vida, na perspetiva de uma carreira profissional. É inadmissível um país onde os nossos filhos são excluídos dos bairros onde nasceram e cresceram porque não têm habitação, porque os salários não lhes permite arrendar uma casa (…). Recuso um país onde nos resignamos face ao agravamento do fosso social. Poucos e cada vez mais ricos”.
Quase a terminar o discurso, afirma que: “Esta tarde não estão aqui apenas cidadãos de todos os quadrantes políticos”. “Está aqui um movimento de esperança. Sei o que esperam de mim como Presidente da República. Esperam alguém que cuide da democracia, valorize e respeite as instituições e sinta na alma as dificuldades e os problemas dos portugueses. Esperam um Presidente íntegro, com uma dimensão ética à prova de bala. Um Presidente com valores e com princípios, que acredite no diálogo para unir e promover compromissos entre os atores políticos e não desista da esperança na paz na Europa, em Gaza e no mundo. Serei esse Presidente. Serei o vosso Presidente. Um Presidente que fala verdade, ouve com humildade, decide com coragem”.
“Conto com todos”, termina antes de se ouvir o hino de Portugal na sala. “Com quem votou e com quem se cansou de votar. Com quem acredita e com quem duvida. Esta candidatura é vossa. É uma candidatura popular”.
Como se chegou a esta candidatura?
Recorde-se que o antigo líder socialista anunciou a entrada na corrida a Belém em 3 de junho, no dia em que o novo parlamento iniciou funções, através de um vídeo publicado pela TVI/CNN Portugal.
"O que nos falta hoje não é apenas estabilidade, é confiança. Confiança nas instituições, confiança de que quem está no poder serve e não se serve, confiança de que deixaremos aos nossos filhos mais do que aquilo que recebemos dos nossos pais", disse na altura.
Dois dias depois de confirmar a candidatura, no seu último comentário no espaço na CNN, António José Seguro considerou que o PS tem "todo o tempo do mundo para decidir" o que fazer no que toca às eleições presidenciais, afirmando que tem muita gente com ele dentro e fora do partido.
"Eu sou um homem livre. Já o disse várias vezes. Não tenho amarras absolutamente nenhumas e considero que esta é uma eleição em que as pessoas expressam a sua convicção, as suas ideias, a sua visão do país. E, portanto, eu não tinha que esperar por ninguém. Eu tinha que ser eu próprio", explicou.
O antigo secretário-geral socialista afirmou também que o PS “decidirá da melhor maneira”.
“O Partido Socialista está numa situação que não é fácil, que é uma situação difícil. E, portanto, tem todo o tempo do mundo para decidir o que deve fazer nestas eleições presidenciais", acrescentou.
Até ao momento, Seguro foi a única personalidade da área socialista que já anunciou uma candidatura a chefe de Estado.
A moção do único candidato à liderança do PS, José Luís Carneiro, refere que o “órgão competente do PS - no caso, o Congresso Nacional ou, entre congressos, a Comissão Nacional - deve apreciar e pronunciar-se, no momento próprio, sobre as candidaturas ou intenções de candidaturas apresentadas pelas cidadãs e pelos cidadãos oriundos do espaço que o centro-esquerda representa e que se propõem ao escrutínio eleitoral”.
António José Martins Seguro nasceu em 11 de março de 1962 em Penamacor, distrito de Castelo Branco, é mestre em Ciência Política, pelo ISCTE-IUL, e licenciado em Relações Internacionais, pela Universidade Autónoma de Lisboa. É casado e tem dois filhos.
Depois de ocupar vários cargos públicos ao longo dos anos - membro do Governo, deputado ou eurodeputado, entre outros - Seguro afastou-se da vida política após a demissão de secretário-geral do PS, em setembro de 2014, na sequência da derrota das eleições primárias contra António Costa.
Remetendo-se à condição de "militante de base" depois de deixar a liderança do PS, que ocupou entre 2011 e 2014, o agora candidato presidencial dedicou-se às aulas na universidade e aos seus negócios, e manteve-se quase em silêncio sobre as questões políticas ao longo da última década, com raríssimas exceções.
Depois de uma década afastado da vida política, o antigo secretário-geral do PS voltou ao ativo e apresenta-se às eleições presidenciais do próximo ano sem esperar pelo seu partido.
Além de António José Seguro, também o antigo líder do PSD Luís Marques Mendes, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, e Joana Amaral Dias já apresentaram as suas candidaturas às eleições presidenciais que serão disputadas em janeiro do próximo ano.
Comentários