A concentração e marcha foi organizada pela Plataforma Anti-transporte de Animais Vivos (PATAV) e aconteceu por ocasião do Dia Internacional de Consciencialização contra o Transporte de Animais Vivos, numa iniciativa que decorreu em mais de três dezenas de países, também ao final da tarde como em Portugal.
Isabel Carmo, ativista da PATAV desde 2017, ano da criação, explicou à Lusa que o objetivo último é acabar com o transporte de animais vivos para países terceiros, razão que levou a plataforma a apresentar uma petição na Assembleia da República, apoiada apenas pelo PAN, BE e Verdes, e que a ação de hoje se destinou a chamar a atenção para a questão.
Pretendemos “chamar a atenção para a necessidade de abolir rapidamente o transporte de animais vivos, que aproveita [a] meia dúzia de produtores”, e lembrar que uma comissão criada pelo Parlamento Europeu para estudar o problema fez 98 recomendações, a maior parte aprovadas pelo Parlamento, que poderão ser aprovadas em breve pela Comissão Europeia.
Uma das medidas que a PATAV, segundo Isabel Carmo, gostaria de ver aprovada é a existência de um veterinário a bordo quando do transporte de animais vivos, desde o país de origem ao país de destino.
Isabel Carmo explicou que em causa estão ovinos e bovinos, colocados sem condições em barcos para viagens de longa duração (“de Portugal para Israel, que é o nosso principal destino de exportação, são seis a sete dias”), com os animais a chegarem feridos, envoltos em excrementos, doentes, e com a morte mesmo de muitos deles.
E mesmo ao nível do embarque nos portos de Portugal segundo a ativista também existem irregularidades e maus tratos aos animais, que “não são feitos para viajar de barco”.
A PATAV tem denunciado desde 2017 “as condições insalubres, desumanas e indignas a que milhares de animais estão expostos e nas quais são exportados, anualmente, a partir dos portos marítimos de Setúbal e de Sines para Israel”, diz a organização.
O deputado do BE Pedro Filipe Soares, também presente, disse à Lusa que o transporte de animais vivos é um tema que o partido vem acompanhando e referiu que a realidade não mudou após a pandemia de covi-19, pelo que é preciso reatar as reivindicações dos direitos dos animais e fazer uma maior pressão pública e política.
“Há uma iniciativa legislativa que queremos reapresentar, mas o governo português também pode fazer mais do ponto de vista internacional. A Alemanha, a Holanda, entre outros Estados, assinaram uma carta contra o transporte de animais vivos, porque sabem da brutalidade com que esse transporte é feito. E Portugal também pode e deve fazer o mesmo. Vamos instar o Governo para ter essa proatividade em defesa dos direitos dos animais”, disse à Lusa.
A deputada do PAN, Inês Sousa Real, também disse à Lusa que o partido vai apresentar uma iniciativa legislativa que visa, enquanto não há uma abolição do transporte de animais vivos, a existência de uma regulamentação.
“O que o PAN defende é que deve existir uma moratória que permita a reconversão da atividade”, disse a deputada, lembrando que no passado domingo naufragou um navio com ovelhas no Sudão, tendo morrido afogadas no mar Vermelho a quase totalidade, mais de 15.000.
Mais um motivo, disse, para convocar “para a urgência” de os animais serem tratados “não como se fossem mercadoria mas respeitando a sua natureza de seres vivos e garantindo a sua proteção”.
O PAN pretende, com a moratória, que as empresas se adaptem para que o transporte seja feito de carcaças de animais e não de animais vivos.
O fim do transporte de animais vivos foi o pedido da centena de manifestantes, com cartazes com frases como “Por todos os animais”, “animais sencientes em viagens indecentes”, ou “animais no mar, poluição a dobrar”.
Entre o Largo Camões e o Cais do Sodré, no centro da capital, com música sempre a acompanhar, os manifestantes gritaram palavras de ordem como “direitos dos animais são fundamentais” ou “exportação não, abolição”.
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