O presidente honorário do PS discursava no jantar comemorativo do partido que assinala o centenário de Mário Soares, na FIL, no Parque das Nações, em Lisboa, e que juntou cerca de 2.500 pessoas, entre vários destacados socialistas.

"Camarada Mário Soares, nestes 100 anos do teu nascimento quero dizer-te que estás vivo em todos nós. Estás vivo no partido que fundaste e a que chamavas o teu violino Stradivarius. Estás vivo na liberdade porque sempre lutaste, na democracia que ajudaste a construir e no socialismo democrático que sempre defendeste", afirmou, num discurso quase totalmente dirigido ao antigo chefe de Estado e primeiro-ministro, que faria hoje 100 anos se fosse vivo.

Para Manuel Alegre, o nome de Mário Soares "está escrito no Estado de Direito Democrático e no Estado Social".

"O teu nome está escrito e inscrito, como nenhum outro, na democracia portuguesa", frisou o socialista.

O escritor e histórico socialista alertou ainda que "os tempos não estão famosos para a democracia", "um pouco por toda a parte assiste-se ao crescimento do populismo e da extrema-direita" e "a democracia está a ser desconstruída e minada por dentro".

"Mas, como costumavas dizer, 'atrás do tempo, tempo vem' e como já aqui foi dito hoje várias vezes, 'só é vencido quem desiste de lutar'. Camarada Mário Soares, estás vivo nos combates travados e nos combates futuros para fortalecer a democracia e o socialismo, para com Pedro Nuno Santos, com todos nós, com o teu partido, construirmos uma alternativa de esquerda democrática em Portugal", defendeu.

Manuel Alegre enalteceu ainda "a dimensão cultural" da política de Mário Soares e a importância que os artistas tinham para o antigo chefe de Estado.

"Política e cultura sempre foram para ti indissociáveis. Por isso as tuas opções políticas foram sempre também opções culturais", elogiou.

Durante a sua intervenção, Alegre lembrou “tantos combates” e “tantos momentos decisivos” que partilhou com Mário Soares, recuando aos tempos nos quais os dois eram exilados políticos e combatiam a ditadura – uma relação próxima que teve um momento conturbado de um afastamento de quase sete anos depois de Manuel Alegre ter decidido candidatar-se à Presidência da República em 2006, sem apoio partidário e contra Mário Soares.

Alegre recordou que as vitórias de Mário Soares garantiram “a autonomia política e estratégica do PS”, condição fundamental para que, sob a sua liderança e “em aliança com o grupo dos Nove e Ramalho Eanes, o PS pudesse liderar o movimento popular e nacional que derrotou a tentação totalitária e reconduziu o 25 de Abril ao seu percurso democrático”.

“Foi uma vitória da esquerda democrática sobre a deriva esquerdista e totalitária, mas foi também uma vitória contra a direita revanchista”, sublinhou.

As eleições para a Assembleia Constituinte, o cerco ao parlamento, “a assinatura” de Soares, juntamente com a de António Arnaut “à cabeça do documento que fundou o Serviço Nacional de Saúde”, as eleições presidenciais de 86, nas quais Álvaro Cunhal apelou ao voto em Soares contra Freitas do Amaral, foram outros dos momentos históricos que Alegre fez questão de destacar.

Este jantar juntou hoje vários rostos conhecidos e históricos do PS, estando sentados na mesa de honra o secretário-geral, Pedro Nuno Santos, os filhos de Mário Soares, Isabel e João, o histórico socialista Manuel Alegre, os antigos líderes Ferro Rodrigues e Vítor Constâncio e vários fundadores do partido.

O presidente do PS, Carlos César, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, as antigas candidatas presidenciais Maria Belém Roseira e Ana Gomes, o ex-candidato à liderança do PS e deputado, José Luís Carneiro, e o antigo ministro José António Vieira da Silva são outros dos socialistas presentes neste jantar comemorativo.