A deteção de documentos ultrassecretos em Mar-a-Lago, em Palm Beach, no centro da costa atlântica do estado da Flórida, tem feito soar os alarmes de segurança nos EUA. Em causa está não só o facto de poderem ter sido ilegalmente recolhidos por Donald Trump quando saiu da Casa Branca, mas também porque a residência do ex-presidente se ter tornado num íman para espiões.
Como escreve o jornal britânico The Guardian, antigos funcionários de segurança da Casa Branca têm vindo a público revelar que a situação é de grande preocupação. “Eu sei que profissionais da segurança nacional no governo, antigos colegas meus, estão a abanar a cabeça perante os danos que podem ter sido cometidos”, disse John Brennan, antigo diretor da CIA.
“Eu tenho a certeza que Mar-a-Lago tem sido alvo dos serviços russos e de outros países nos últimos 18 ou 20 meses, e se conseguiram colocar pessoas nas instalações, aceder aos quartos onde estavam esses documentos e fazer cópias dos mesmos, era isso o que fariam”, acrescentou.
Desde que o FBI fez uma rusga à propriedade de Donald Trump que têm vindo a público informações cada vez mais alarmantes quanto ao que o ex-presidente poderá ter feito. Segundo uma notícia do jornal Washington Post desta quarta-feira, foi encontrado um documento que descreve as defesas militares de um Governo estrangeiro.
Para o jornal, essa descoberta confirma as preocupações que existiam nos serviços de informação dos Estados Unidos sobre o material classificado que supostamente estava escondido na propriedade de Trump.
Somente o presidente, alguns membros do seu gabinete ou um funcionário próximo a esse órgão poderiam autorizar outros funcionários do Governo a aceder aos detalhes desses programas secretos, segundo fontes ligadas à operação, que falaram sob condição de anonimato.
Os documentos sobre essas operações altamente secretas exigem autorizações especiais e alguns deles eram acessíveis a um número restrito de pessoas, mantidos a sete chaves, quase sempre numa instalação segura de informações compartimentadas e com um oficial de controlo designado para monitorizar a sua localização.
Entretanto, esses documentos foram armazenados em Mar-a-Lago, "com segurança incerta durante mais de 18 meses", após Trump ter deixado a Casa Branca, sublinhou o jornal The Washington Post.
É por isso que, neste momento, o gabinete da Diretora de Inteligência Nacional está a conduzir um relatório de avaliação de danos focado no grau de confidencialidade dos documentos. No entanto, é o trabalho do FBI de avaliar quem é que pode ter tido acesso aos mesmos.
Os sinais são preocupantes, dada a falta de segurança em Mar-a-Lago perante investidas de governos estrangeiros. No mês passado soube-se da infiltração de uma imigrante russa, Inna Yashchyshyn, na propriedade ao fazer-se passar por uma herdeira da família Rothschild. Não se sabe se a mulher é uma espiã, mas a facilidade com que ludibriou toda a gente demonstra a vulnerabilidade de Mar-a-Lago: filha de um camionista que emigrou para o Canadá, Inna manteve a ilusão ao contar histórias da sua vida de opulência no Mónaco e chegou mesmo a tirar uma fotografia com Donald Trump.
Outro caso prende-se com Yujing Zhang, uma mulher chinesa que foi apanhada nos terrenos da propriedade ainda durante a presidência Trump. Zhang tinha consigo quatro telemóveis, um portátil, um disco externos e uma pen USB com software malicioso — no seu quarto de hotel estavam nove drives USB, cinco cartões SIM e um aparelho para detetar microfones e câmaras escondidas. Foi considerada culpada de entrar ilegalmente num edifício de acesso restrito e de prestar declarações falsas a um agente federal, tendo sido deportada em 2021.
Após meses de tentativas, de acordo com documentos judiciais do Governo, o FBI recuperou mais de 300 documentos confidenciais em Mar-a-Lago este ano: 184 num conjunto de 15 caixas enviadas à Administração Nacional de Arquivos e Registos em janeiro, mais 38 entregues por um advogado de Trump aos investigadores em junho e mais de 100 documentos adicionais descobertos numa busca aprovada pelo tribunal em 08 de agosto.
Foi neste último lote de segredos do Governo recuperados, segundo as fontes, que as informações sobre a prontidão de defesa nuclear de um Governo estrangeiro foram encontradas.
As fontes não identificaram o Governo estrangeiro em questão, não disseram onde o documento foi encontrado em Mar-a-Lago, nem forneceram detalhes adicionais sobre uma das investigações de segurança nacional mais delicadas já realizadas pelo Departamento de Justiça.
Foram também encontrados documentos relacionados com agentes dos EUA infiltrados pelo mundo, cuja segurança poderá estar em perigo se for revelada a sua identidade.
O Washington Post lembrou que havia relatado anteriormente que os agentes do FBI que revistaram a casa de Trump estavam a procurar, em parte, documentos confidenciais relacionados a armas nucleares.
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