
Marcelo Rebelo de Sousa dedicou parte substancial do seu discurso na cerimónia de posse do XXV Governo Constitucional, o segundo executivo PSD/CDS-PP chefiado por Luís Montenegro, a enquadrar a descida do PS e a subida do Chega nas eleições legislativas de 18 de maio.
O chefe de Estado qualificou esse momento como "um virar de página agora mais pronunciado", depois de décadas de alternância entre ciclos de centro-esquerda e de centro-direita no poder.
"Os portugueses não se limitaram a substituir mais claramente este ano um ciclo por outro. Essa mudança inseriu-se numa evolução europeia que chegou mais tarde a Portugal, de enfraquecimento dos partidos clássicos perante novas realidades políticas, processo começado na Europa pelo menos há 20 anos. Entre nós, com democracia mais jovem, há menos tempo", disse.
Segundo o Presidente da República, em Portugal, os anos de "2017 e 2018 marcaram a chegada do mesmo fenómeno", com o aparecimento de "forças novas ou renovadas mais radicais", que se intensificou mais recentemente, nas últimas três eleições legislativas antecipadas que convocou.
"De 2022 até 2024 e 2025 foi um galope", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou fatores associados a essa subida: "O envelhecimento prosseguiu sem inversão. O rearranque económico, mais três lentos anos de reestruturação dos serviços estrangeiros e fronteiras, geraram um salto da imigração por regularizar sem noção do seu cabal alcance, embora percebendo-se que a maioria clara era de falantes de português, e neles de brasileiros e de comunidades cristãs".
"Turismo residencial explodiu e adquiriu habitação por todo o território nacional. Também porque a guerra convertera Portugal em ilha ainda mais segura, ao mesmo tempo europeia e atlântica. Estruturas sociais, então, tremeram", prosseguiu.
O Presidente da República realçou que a chegada de estrangeiros teve impactos na educação, na saúde e na habitação.
"Isto mais a criação de uma tensão crescente em quem sabe, ao mesmo tempo, que a economia e a sociedade precisam de mais abertura, circulação de pessoas e mão de obra, mas adere instintivamente ao medo, à incompreensão e à rejeição perante os que entraram, apesar de muitos se terem integrado em criação de emprego e contribuições para a segurança social", analisou.
Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que tudo isso aconteceu "tão depressa, tão inesperadamente, que mudara o Portugal dos anos 80, 90 e início do século XXI".
"E mudava, agora, os seus hábitos de vida. Finalmente, fundos europeus que podem ajudar a crescer e atenuar tensões, a demorarem teimosamente a chegar às pessoas de 2022 em diante", acrescentou.
Quanto à descida do PS, considerou que "os portugueses penalizaram a força política que havia governado Portugal desde 1995 e até 2024, quase 30 anos, salvo dois períodos, um de três, outro de quatro anos, e que a conseguira praticamente igualar o vencedor em 2024".
O chefe de Estado relativizou esta descida, dizendo que "o fenómeno não é novo" na democracia portuguesa e que também o centro-direita e a direita estiveram na oposição "por quase 30 anos – tirando sete", durante os quais "o centro-esquerda sozinho ou com o apoio parlamentar da restante esquerda governou Portugal".
Mais à frente, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se, sem os nomear, ao PS como "a mais antiga, ainda mais votada" das oposições "e a que tanto se deve" na criação da democracia, e ao Chega como oposição "agora emergente, que mobiliza muitos dos menos jovens mais desiludidos e muitos dos mais jovens portadores de mudanças também mais radicais, que lidera as bancadas parlamentares".
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