Nesta quarta-feira de cinzas foi a vez do empresário e multimilionário, Marcelo Odebrecht, iniciar os seus depoimentos ao Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, numa ação movida pelo PSDB (partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), que pede a anulação da reeleição da dupla Dilma/Temer por suspeitas de gastos de campanha acima do que estava aprovado, doações por meio de suborno de empreiteiras contratadas pela Petrobrás e pagamento irregular para gráficas que não executaram os serviços declarados.
Logo à partida, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, Marcelo Odebrecht, “o príncipe”, como era conhecido no meio empresarial, disse: “Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”. O "príncipe", está preso desde 18 de Junho de 2015 e foi condenado em Março de 2016 a 19 anos e 4 meses de prisão. Fechou um acordo de delação premiada, no âmbito da Operação Lava Jato, no qual se comprometeu a pagar uma indemnização de 8,6 mil milhões de reais, por se ter envolvido em corrupção.
Neto de Norberto Odebrecht, fundador da construtora, Marcelo foi sempre considerado um executivo agressivo, tanto que fez um autêntico bypass ao seu pai, Emílio Odebrecht, e assumiu o comando da maior construtora da América Latina, quatro anos após a morte de Norberto, o avô, com quem mantinha relações estreitas. Essa manobra ocorreu no período em que o mundo vivia uma crise económica - que no Brasil tinha sido descrita pelo então presidente Lula como “apenas uma marolinha”. Houve uma cisão interna no Grupo Odebrecht com executivos alinhados com o pai de Marcelo, colocado na cadeira de Presidente do Conselho de Administração, e outros com o filho.
Emílio, o pai de Marcelo, começou como estagiário na construtora do pai, Norberto, até assumir a presidência antes do filho Marcelo. Fundou a Brasken, uma empresa química e petroquímica que está entre as seis maiores do mundo na produção de resinas plásticas, e ocupa liderança mundial em resinas termoplásticas. Foi condenado pela Lava Jato a quatro anos de prisão domiciliar e terá um prazo para se afastar do comando do grupo.
No meio do vertiginoso crescimento dos negócios, impulsionado pela economia brasileira em duvidoso equilíbrio, Marcelo aproximou-se do governo Lula, que estava no seu segundo mandato. O sonho de Lula era transformar o Brasil numa potência mundial, e estava convencido que um dos caminhos seria ajudar algumas empresas nacionais a fazer grandes negócios fora do Brasil.
Odebrecht, entre outros projetos grandiosos, ficou com a construção do porto de Cuba. Desde então, a relação do “príncipe” se estreitou mais e mais a cada dia com o governo e ele teve acesso facilitado aos cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) como que por um passe de mágica. 5,8 mil milhões de reais entraram nas contas da Odebrecht a custos baixíssimos desde então. Tendo o apoio dest financiador, construir obras no exterior virou brincadeira de criança. Mas tudo tem um preço.
Na quarta-feira, Marcelo Odebrecht falou por quatro horas, e alegou ter doado à campanha presidencial de 2014, via "caixa 2" (designação que significa movimentos de caixa sem prestação de contas) 120 milhões de reais. Desse montante, 50 milhões eram referentes à aprovação de uma Medida Provisória (MP) que beneficiou o grupo e esse valor teria sido negociado diretamente com o ex-ministro das Finanças, Guido Mantega, seu principal interlocutor no governo, responsável pela transferência do dinheiro para as campanhas políticas.
Marcelo afirma que a então presidente Dilma Roussef tinha conhecimento das negociações e que ela sabia que parte dos pagamentos, efetuados no exterior, seria feito ao responsável de marketing João Santana. Disse ainda que esteve no gabinete do vice-presidente Michel Temer para tratar de doações para o PMDB e que os valores teriam sido discutidos com um de seus executivos, Cláudio Melo e o ministro licenciado da Casa Civil do atual governo Temer, Eliseu Padilha, chegando a 10 milhões de reais.
A ex-Presidente Dilma já desmentiu as declarações do empresário: "É mentirosa a informação de que Dilma Rousseff teria pedido recursos ao senhor Marcelo Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa dois [contribuições não declaradas], durante as campanhas presidenciais de 2010 e 2014", anunciou a assessoria de imprensa da ex-Presidente em comunicado
Muito mais que virá por aí, os depoimentos serão levados ao Supremo Tribunal Federal que julgará se e quais trechos poderão ser divulgados, já que envolvem figuras com foro privilegiado.
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