Em declarações aos jornalistas após a reunião sobre a situação epidemiológica da covid-19 na sede do Infarmed, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa analisou o impacto que a evolução da pandemia pode ter sobre a votação nas eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro e, entre outros aspetos, admitiu que pode voltar a haver alterações no período de isolamento das pessoas infetadas e dos contactos de risco.
“Está a Direção-Geral da Saúde – foi informado aqui – a estudar o período de isolamento. E da definição desse período de isolamento depende também o número de cidadãos que poderão ou não exercer o direito de voto, com uma decisão a breve trecho”, afirmou o chefe de Estado.
A decisão de redução do período de isolamento de 10 para sete dias tinha sido anunciada pela DGS já no dia 30 de dezembro, mas a norma só foi atualizada hoje.
As normas atualizadas pela DGS também reduzem para sete dias o isolamento dos contactos de alto risco, mas alteram as definições destes contactos, que só entram em vigor na próxima segunda-feira.
Assim, passam a ser considerados contactos de alto risco os coabitantes do caso confirmado, exceto se tiverem esquema vacinal completo com dose de reforço, quem resida ou trabalhe em lares ou outras respostas dedicadas a pessoas idosas, comunidades terapêuticas e de inserção social, bem como em centros de acolhimento temporário, de alojamento de emergência e na rede de cuidados continuados.
De acordo com as normas hoje atualizadas, o período de isolamento será de 10 dias para quem desenvolve doença moderada e 20 para quem desenvolve doença grave e para quem tem problemas de imunodepressão, independentemente da gravidade da evolução clínica.
Marcelo confia na capacidade dos portugueses para "autogestão da pandemia"
O Presidente da República manifestou confiança na capacidade dos portugueses se responsabilizarem e assumirem uma "autogestão da pandemia" de covid-19, matéria em relação à qual disse haver convergência por parte dos especialistas.
Questionado se a baixa literacia de parte da população portuguesa não desaconselha essa "autogestão", o chefe de Estado considerou que, pelo contrário, os portugueses têm demonstrado "uma alta literacia na resposta aos apelos sanitários" para conter a propagação da covid-19 em Portugal.
"Uma coisa é a literacia em termos de escolaridade, que tem vindo a subir, felizmente, na sociedade portuguesa. Outra coisa é em termos de cultura cívica, de experiência, em que os portugueses, independentemente do grau de escolaridade que possuem, têm respondido afirmativamente, mostrando capacidade que eu diria ser para uma alta literacia no domínio da proteção da sua saúde e da saúde dos outros", argumentou.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou ainda os atuais "níveis de testagem" no país, "cinco vezes superiores ao que se passava há um ano".
"Isto representa um esforço por parte dos portugueses e a sua capacidade de assumirem o apelo para uma autogestão da pandemia", defendeu.
Segundo o Presidente da República, nesta reunião verificou-se "uma convergência total entre os vários especialistas quanto à análise da situação" da covid-19 em Portugal e "todos convergiram no sentido do que foi definido, e bem, pela senhora professora Raquel Duarte, como uma autogestão sanitária, acompanhada, monitorizada, obedecendo a regras definidas pelas autoridades de saúde, mas no sentido da responsabilização dos portugueses".
"Apesar de Portugal, a seguir à Suécia, ser a sociedade europeia mais aberta em termos de restrições, isso não tem significado uma pressão nos internamentos, nos cuidados intensivos e no número de mortes comparável com o que se verificou há um ano ou correspondente ao crescimento dos contágios ou do número de casos nas últimas semanas e nos últimos dias", apontou.
Interrogado sobre um eventual adiamento do início das aulas previsto para 10 de janeiro, tendo em conta a possibilidade de na próxima semana se atingir um novo pico de contágios, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "os especialistas apresentaram um modelo matemático, que é diferente de uma projeção, mas naturalmente que o Governo irá ponderar, na sequência do que aqui foi ouvido, o tipo de medidas a adotar".
O chefe de Estado realçou, contudo, que nesta sessão a abertura das aulas não foi questionada e que "não houve aqui nenhuma proposta de nenhum especialista que apontasse para a introdução de restrições significativas naquilo que é situação de abertura económica e social no nosso país".
O chefe de Estado elogiou os portugueses, afirmando que "têm sido exemplares, ao autotestarem-se, ao testarem-se por outras vias, ao respeitarem as regras de proteção, de distanciamento, de uso de máscara sempre que isso for considerado adequado", adotando "comportamentos preventivos para que esta variante [Ómicron], que é muito contagiante, não seja tão grave quanto as variantes anteriores".
"É impossível não agradecer aos portugueses o compreenderem uma a uma as mensagens que os poderes públicos têm dirigindo tendo os portugueses como destinatários nos últimos dois anos. Sempre perceberam e atuaram em conformidade", reforçou.
No que respeita à vacinação contra a covid-19, o Presidente da República salientou a sua importância para evitar doença grave: "Olhando para os valores de internados e internados em cuidados intensivos vacinados e não vacinados, é muito significativo o efeito da vacinação prevenindo a gravidade, os internamentos e as mortes, e é ainda mais significativo em termos de reforço da vacinação".
Na sede Infarmed, em Lisboa, estiveram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Saúde, Marta Temido, e os especialistas.
Representantes dos partidos, das confederações patronais, sindicais e membros do Conselho de Estado participaram nesta sessão por videoconferência.
[Notícia atualizada às 15:24]
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