“Não se pode lesar uma marcha, seja no valor que for, e passar impune”, afirmou à Lusa o responsável da marcha da Bica, Pedro Duarte, lembrando que pagou 18.500 euros – 95% do projeto contrato – ao figurinista e, depois, devido à “não conclusão” dos trabalhos no prazo contratualizado, teve que desembolsar “entre sete a dez mil euros” para que a marcha pudesse sair à rua.
De acordo com Pedro Duarte, os prejuízos são “morais e materiais”, pelo que o bairro da Bica vai avançar com um processo judicial contra o figurinista contratado, algo que só não aconteceu antes devido às recentes eleições na coletividade.
“O principal objetivo é tentar ser ressarcido ao máximo do prejuízo que sofremos”, disse o responsável da marcha da Bica.
Para o bairro da Boavista, a participação nas marchas populares de Lisboa de 2016 foi “uma má estreia” ainda mais porque a experiência não se vai repetir este ano.
Segundo a responsável da marcha da Boavista, Gilda Caldeira, a marcha não estar este ano em concurso “deve-se muito ao trabalho desse senhor”, referindo-se ao incumprimento do figurinista Joaquim Guerreiro.
“Demos-lhe 22 mil euros e gastamos mais 18 mil” para acabar os fatos dos marchantes que tinham sido contratualizados e que não foram garantidos, recordou Gilda Caldeira, reforçando que, no total, foram gastos 40 mil euros para que a marcha da Boavista pudesse desfilar pela primeira vez.
O bairro da Boavista avançou com uma queixa-crime contra Joaquim Guerreiro por burla qualificada, mas o Ministério Público deliberou o arquivamento do inquérito, pelo que a responsável da marcha decidiu recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça.
“Estamos à espera daquilo que o Supremo decida. Se o Supremo decidir que também é arquivado, só podemos fazer-lhe um processo cível para ver se nos indemniza”, indicou Gilda Caldeira, referindo que os moradores do bairro estão “completamente desiludidos pela decisão do Ministério Público”.
À semelhança da Boavista, a marcha do Lumiar também foi lesada pelo figurinista Joaquim Guerreiro e também acabou por ficar de fora do concurso.
“Significativo foi o prejuízo do ponto de vista artístico, na medida em que ficamos de fora do concurso muito por razões relacionadas com o trabalho do Joaquim Guerreiro”, declarou à Lusa o responsável da marcha do Lumiar, Artur Botão, acrescentando que, do ponto de vista financeiro, os danos “não foram muito significativos”, uma vez que o figurinista entregou o trabalho “num estado avançado de confeção”.
“Tivemos que acabar o trabalho dele, tivemos que comprar alguns materiais, mas também não liquidamos a última tranche [do valor contratado], porque o trabalho não foi entregue pronto”, explicou.
Questionado sobre a intenção de avançar judicialmente contra o figurinista, Artur Botão esclareceu que o custo-benefício dessa ação, “cujo desfecho seria imprevisível”, podia não compensar todo o trabalho que dá um processo judicial, pelo que se resolveu dar o assunto por encerrado.
Na marcha do Alto do Pina, o prejuízo foi “na ordem dos sete mil euros”, referiu o ex-responsável Pedro Jesus, que esteve a chefiar a marcha até dezembro, contando que a atual direção contratou novamente o figurinista Joaquim Guerreiro, que “vai fazer um desconto sobre o valor global do projeto”, de forma a compensar o que aconteceu em 2016.
“O acordo é ótimo e compensa o prejuízo que houve o ano passado”, declarou o atual responsável da marcha do Alto do Pina, Marco Campos, escusando-se a revelar pormenores do contrato.
Em resposta escrita à Lusa, o figurinista Joaquim Guerreiro esclareceu que o que aconteceu “não tem absolutamente nada a ver com algum tipo de burla”.
“De forma simplista, o que aconteceu é que não havia dinheiro para desenvolver os projetos apresentados em tempo útil, para que estes pudessem ser concluídos da forma acordada, tendo eu, no entanto, colaborado da melhor forma possível com as coletividades, até me ser humanamente e dignamente possível”, declarou Joaquim Guerreiro.
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