Mário Soares morreu em 7 de janeiro de 2017 no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, depois de ter permanecido internado 25 dias, os últimos dos quais em “coma profundo”.
O Governo decretou então três dias de luto nacional e um funeral com honras de Estado, tendo o corpo do ex-chefe de Estado permanecido mais de 24 horas na Sala dos Azulejos do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, por onde passaram as mais destacadas figuras da política portuguesa.
A urna depositada em cima de um armão militar puxado por cavalos seguiu depois para o Cemitério dos Prazeres, onde agora se realizará uma homenagem.
Soares desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história contemporânea portuguesa.
Foi fundador e primeiro líder do Partido Socialista após combater o Estado Novo, sendo considerado por muitos historiadores como a mais destacada figura do regime democrático português.
Filho de João Lopes Soares, um ministro na I República, e de Elisa Nobre Baptista, Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu a 7 de dezembro de 1924, em Lisboa, tendo estado omnipresente na vida pública do país, tanto nas décadas anteriores à revolução de 25 de Abril de 1974, como nos primeiros 40 anos da democracia portuguesa.
Preso político e posteriormente exilado em São Tomé e Príncipe e França durante a ditadura, Soares regressou "em ombros" à sua pátria em 1974 para desempenhar as pastas dos Negócios Estrangeiros dos primeiros governos provisórios, liderar os I, II e IX Governos Constitucionais (1976-78 e 1983-85), até chegar à Presidência da República, no Palácio de Belém, onde ficaria por dois mandatos (1986-1996).
Durante uma das estadas na prisão, em 1949, casou-se com Maria de Jesus Barroso, então atriz, com a qual teve dois filhos, Isabel, que dirige o Colégio Moderno, e João, que viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa e é atualmente deputado do PS.
Em 1943, o licenciado em Ciências Históricas-Filosóficas (1951) e em Direito (1957) aderiu, na clandestinidade, ao Partido Comunista Português, do qual seria formalmente expulso em 1950.
Desde a fundação do PS, na localidade alemã de Bad Munstereifel, a 19 de abril de 1973, Soares desempenhou o cargo de secretário-geral dos socialistas portugueses ao longo de 13 anos, até 1986.
Após a revolução de Abril, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros nos primeiros governos provisórios, esteve envolvido nos processos de reconhecimento da jovem democracia portuguesa e de descolonização da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique e, no plano político interno, sobretudo em 1975, colocou-se na linha da frente contra o PREC (Processo Revolucionário em Curso).
Já como primeiro-ministro dos I e II governos Constitucionais, Soares teve de gerir o regresso de milhares de cidadãos das ex-colónias e uma situação de quase rutura financeira do país, que implicou, pela primeira vez, o recurso do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
A partir de 1977, foi pela mão de Mário Soares que começou o processo de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), concretizado a 12 de junho de 1985, também durante um Governo por si liderado (o IX, do "Bloco Central" PS/PSD).
Pouco depois, em 1986, Mário Soares sucedeu a Ramalho Eanes em Belém, derrotando primeiro outros candidatos de esquerda - Maria de Lurdes Pintassilgo e Salgado Zenha - e, na única segunda volta presidencial até agora realizada, o democrata-cristão Freitas do Amaral. Soares tornou-se então o primeiro chefe de Estado civil da democracia, após uma campanha que deixou na memória de muitos portugueses o mote: "Soares é fixe".
Reeleito em 1991 para um segundo mandato em Belém - este marcado pela conflitualidade política com o então primeiro-ministro, Cavaco Silva - o fundador do PS foi ainda foi eurodeputado (1999) e novamente candidato à Presidência da República (2006), perdendo para Cavaco Silva e sendo ainda ultrapassado nos votos pelo também socialista Manuel Alegre.
Embora formalmente distante da primeira linha política desde 2006, Mário Soares manteve mesmo assim uma intervenção pública regular, que apenas foi interrompida por razões de saúde nos primeiros dois meses de 2013.
Nestes últimos anos, o antigo Presidente República destacou-se pela dureza das suas críticas ao "neoliberalismo", ao funcionamento da União Europeia, ao Governo PSD/CDS de Pedro Passos Coelho, mas também à anterior liderança socialista de António José Seguro.
Depois das eleições europeias de 2014, durante a última crise interna dos socialistas, Mário Soares colocou-se logo ao início ao lado da candidatura vitoriosa do presidente da Câmara de Lisboa e atual secretário-geral, António Costa.
Em finais de 2015, foi a primeira personalidade socialista a visitar o ex-primeiro-ministro José Sócrates, primeiro no Estabelecimento Prisional de Évora, ocasião em que fez declarações polémicas contra a atuação das autoridades judiciárias neste caso, e depois em casa.
Após a morte da sua mulher, Maria de Jesus Barroso, em julho de 2015, começaram a ser raras as aparições públicas de Mário Soares.
Em 2016, já com a sua saúde debilitada, Mário Soares foi alvo de várias homenagens institucionais, a primeira quando recebeu em abril do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, numa cerimónia reservada, o diploma de deputado honorário no âmbito dos 40 anos da posse da Assembleia Constituinte.
A 23 de julho, o primeiro-ministro, António Costa, numa cerimónia pública que se realizou nos jardins de São Bento, prestou homenagem ao I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, por ocasião dos 40 anos da posse deste executivo minoritário do PS.
Mário Soares esteve presente pela última vez numa sessão pública a 28 de setembro, quando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou a antiga presidente da Cruz Vermelha Portuguesa Maria de Jesus Barroso.
O que vai acontecer hoje no parlamento?
Na sessão do centenário de Mário Soares, de acordo com o cerimonial aprovado, a diferença mais relevante é o tratamento protocolar de destaque concedido aos dois filhos – Isabel e João Soares – do antigo Presidente República (1986/1996), fundador e primeiro líder do PS.
De resto, em comparação com a sessão que assinalou a operação militar do 25 de Novembro de 1975, é quase tudo igual. O tempo atribuído aos discursos dos representantes dos grupos parlamentares é o mesmo, cinco minutos e trinta segundos, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, usa da palavra imediatamente antes de Marcelo Rebelo de Sousa, e o hino nacional será tocado por duas vezes, na abertura e no fim da cerimónia.
Também no dia de hoje, a Guarda de Honra, constituída por um Batalhão da Guarda Nacional Republicana, com Estandarte Nacional, banda e fanfarra, vai estar postada no passeio fronteiro à Assembleia da República a partir das 9h45 horas.
Além dos titulares dos diferentes órgãos de soberania, foram convidados para a sessão representantes do corpo diplomático em Portugal, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, a provedora de Justiça, os chefes dos ramos das Forças Armadas, os representantes da República para as regiões autónomas dos Açores e da Madeira, os presidentes das assembleias legislativas e dos governos regionais açoriano e madeirense, entre outros responsáveis de entidades.
Em destaque, estarão também figuras como os conselheiros de Estado, responsáveis pelos serviços e forças de segurança, assim como os presidentes do Conselho Económico e Social, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, da Associação Nacional de Freguesias, e o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno.
No fim da cerimónia, a banda da GNR, formada nos Passos Perdidos, executa o Hino Nacional, e o Presidente da República, acompanhado pelo presidente da Assembleia da República, abandona a Sala das Sessões.
*Com Lusa
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