Numa mensagem dirigida ao primeiro-ministro, Jorge Roque da Cunha adianta que a convocação administrativa realizada pelas hierarquias “sob uma muito alta pressão coativa” configura grave exemplo de assédio moral e que estes não se recusaram a ver doentes.
Os médicos, adiantou, “que reiteradamente denunciaram, por intermédio das associações profissionais que os representam, os atropelos, desde logo omissivos, que os sistemas de assistência e solidariedade social e de saúde revelaram, não atuaram levianamente”.
Segundo o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, as denúncias destes profissionais de saúde provocaram abertamente “o clamor nacional que, com horror, pôs cobro à sobranceria e à indiferença de alguns dos responsáveis locais, regionais e nacionais desta tragédia, em que se jogou com a vida e a morte de alguns dos mais carenciados de entre todos”.
“Não, Senhor Primeiro-Ministro, os médicos, que se encontram exaustos no desempenho porfiado das tarefas assistenciais que sobre si impendem, esgotados no cumprimento de cargas de trabalho suplementar de períodos sucessivos de mais seis e de mais 12 horas diárias, para além de todos os limites semanais e anuais a que estão obrigados nos termos da lei e das convenções coletivas de trabalho em vigor, não faltaram à chamada nem abandonaram os seus doentes, defenderam-nos”, frisou Jorge Roque da Cunha.
Na missiva, o secretário-geral do SIM defende que o Governo presidido por António Costa deveria ter interesse em superar as deficiências reconhecidas e agora expostas publicamente e tudo fazer para resolver as gravíssimas lacunas materiais e humanas do setor da saúde, “em vez de propalar inverdades e juízos preconceituosos contra quem, ao longo de centenas de jornadas de trabalho, tem dado o seu melhor e garantido uma prestação de cuidados da maior qualidade”.
O primeiro-ministro António Costa recordou hoje o caso do lar de Reguengos de Monsaraz, no qual 18 pessoas morreram, vítimas de covid-19, numa declaração em que manifestou “toda a confiança política” na ministra do Trabalho e Segurança Social.
O surto de Reguengos de Monsaraz, detetado em 18 de junho, provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 pessoas (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).
Posteriormente, num relatório de auditoria conhecido em 06 de agosto, a Ordem dos Médicos disse que o lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e apontou responsabilidades à administração, à Autoridade de Saúde Pública e à ARS.
A Procuradoria-Geral da República disse depois à Lusa que foi instaurado um inquérito sobre o surto de covid-19 neste lar e que está a analisar o relatório da Ordem.
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