“Estou a transmitir o relato fiel, verdadeiro, integral do que foi o âmbito da conversa no domingo [05 de março], uma reunião formal para lhe comunicar que, recebido o relatório da IGF e ponderadas as suas conclusões, a demissão da engenheira Christine e do presidente do Conselho de Administração – [com Manuel Beja] essa conversa foi com o ministro das Infraestruturas - não seria possível a sua continuidade e que eu iria propor o início do processo relativamente à sua demissão com justa causa”, afirmou Fernando Medina, na comissão parlamentar de inquérito à TAP.

Estas afirmações do ministro contrariam as declarações da ex-presidente executiva da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener, na sua audição na comissão de inquérito, em abril, onde disse ter tido uma reunião com Fernando Medina na véspera do anúncio da sua demissão, mas que em nenhum momento foi informada de que seria demitida com justa causa, apenas de que a “situação estava complicada”.

“Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças no domingo à noite antes da conferência de imprensa e durante essa discussão ele expressou que a situação estava complicada, mas ele não me deu a informação que seria demitida com justa causa no dia seguinte”, respondeu então a ex-CEO, depois de consultar por breves momentos os dois advogados que a acompanharam.

Segundo Ourmières-Widener, foi-lhe dito que “havia uma conferência, mas nunca lhe foi explicada a natureza do que aconteceu no dia seguinte”.

A ex-CEO disse também que teve uma curta reunião de 10 ou 15 minutos com o ministro das Infraestruturas, João Galamba, na manhã da conferência de imprensa, a pedido da presidente executiva da companhia aérea.

“Não sabia da justa causa, de todo, antes da conferência de imprensa. Estava apenas à espera de ser demitida”, disse então Ourmières-Widener.

Questionado hoje pelo deputado do BE Pedro Filipe Soares se era “impossível” a ex-CEO ter sido surpreendida com um telefonema de João Galamba no dia 06 de março sobre este tema, Medina sublinhou que tinha sido “transmitida à engenheira Christine de forma precisa e rigorosa” a decisão, na véspera.

“Consciente que esta decisão - inevitável face às conclusões da IGF - teria danos reputacionais na sua carreira, propus à engenheira Christine que estaria na disposição de, se ela tivesse esse entendimento, aceitar a sua demissão”, realçou Fernando Medina, num ato que classificou de “proteção” face a uma situação que entendeu que podia ser mais danosa para a gestora.

O ministro das Finanças admitiu que preferia não ter de tomar aquela decisão, “mas, em consciência, não podia tomar outra”.

A ex-presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido “pressa política” para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.

O Governo anunciou, em 06 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores, bem como a exoneração por justa causa dos responsáveis da companhia.

Em dezembro, Alexandra Reis tomou posse como secretária de Estado do Tesouro, tendo então estalado a polémica sobre a indemnização de 500.000 euros que recebeu quando saiu da companhia aérea detida pelo Estado, levando a uma remodelação no Governo, incluindo a saída de Pedro Nuno Santos, que foi substituído por João Galamba.