A Estónia, a Letónia e a Lituânia abandonam a partir de hoje a rede elétrica russa para aderirem ao sistema europeu, um processo iniciado há anos e acelerado após a invasão da Ucrânia por Moscovo.
“Estamos a retirar à Rússia a possibilidade de utilizar o sistema elétrico como instrumento de chantagem geopolítica”, disse o ministro da Energia lituano, Zygimantas Vaiciunas.
Na rede social X, Kaja Kallas, chefe da diplomacia europeia e antiga primeira-ministra da Estónia, celebrou “uma vitória para a democracia”.
“Estamos prontos”, afirmou o primeiro-ministro lituano, Gintautas Paluckas, nas redes sociais, elogiando "o início de uma nova era de independência [energética]".
Quando começou este processo e qual o motivo?
O processo demorou vários anos devido a inúmeros problemas tecnológicos e financeiros e à necessidade de diversificar o fornecimento, nomeadamente através de cabos submarinos.
A mudança tornou-se urgente após a invasão russa da Ucrânia em 2022, que despertou nos países bálticos o receio de que Moscovo os visasse também.
Desde então, os três países deixaram de comprar gás e eletricidade russos, embora as redes elétricas continuassem ligadas à Rússia e à Bielorrússia, com regulação da frequência controlada por Moscovo.
Por isso, continuavam dependentes da Rússia para um fluxo estável de eletricidade, crucial para os aparelhos que necessitavam de um fornecimento de energia fiável, em particular nos processos industriais.
Como é que vai funcionar a partir de agora?
Depois de abandonarem a rede russa, às 07h00 de hoje, os países bálticos funcionaram em “modo isolado” para testar a frequência da rede.
“Precisamos de realizar testes para garantir à Europa a estabilidade do nosso sistema energético”, explicou Rokas Masiulis, diretor do Litgrid, operador estatal da rede elétrica lituana.
Os três países foram entretanto integrados na rede europeia através da Polónia. As autoridades lituanas e polacas iniciaram o processo de sincronização por volta do meio-dia de domingo e depois anunciaram que a ligação aconteceu "com sucesso".
Há contratempos previstos?
As autoridades alertaram para possíveis problemas. “Vários riscos a curto prazo, tais como operações (...) contra infraestruturas críticas, ciberataques e campanhas de desinformação” levadas a cabo pela Rússia, afirmou o departamento de Segurança lituano.
O operador polaco de eletricidade PSE anunciou o envio de helicópteros e 'drones' para controlar a ligação com a Lituânia.
O presidente da Letónia, Edgars Rinkevics, disse à emissora pública LTV1 que, embora os três países estivessem “totalmente preparados”, não podem “excluir possíveis provocações”.
Na Estónia, polícia e voluntários vão estar estacionados em infraestruturas elétricas essenciais até ao próximo fim de semana, devido ao risco de sabotagem.
Qual o impacto de tudo isto na UE?
A ligação dos Estados bálticos à rede elétrica europeia, após a sua desconexão da rede russa, liberta a União Europeia de “ameaças e chantagens”, disse hoje Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
“Hoje, estamos a ligar os Estados bálticos à rede elétrica da Europa continental. Estamos a cortar as últimas ligações com a Rússia. Estamos finalmente livres de ameaças e chantagens. Este é um dia histórico”, afirmou na rede social X.
*Com Lusa
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