“Deixo agora esta União Europeia, na minha qualidade de chanceler, numa situação que me preocupa. Superámos muitas crises (…), mas temos uma série de problemas por resolver”, disse Merkel, no final daquela que pode ter sido a sua última cimeira europeia em Bruxelas.
“Este foi talvez o meu último Conselho Europeu. Para mim foi sempre um prazer”, confessou Merkel, depois de, na sala de reuniões, os líderes europeus a terem aplaudido e elogiado.
A chanceler alemã disse que, ao longo dos seus 16 anos no cargo, tentou “resolver os problemas”, quando respondeu a uma pergunta sobre os desafios colocados por líderes como o húngaro, Viktor Orban, ou o polaco, Mateusz Morawiecki.
“Somos uma sociedade livre e cada um pode mostrar a sua opinião crítica. Do meu ponto de vista, tenho tentado resolver os problemas. E, se os outros o veem de forma diferente, obviamente terei de conviver com isso”, explicou Merkel.
Sobre a polémica decisão do Tribunal Constitucional polaco – que estabeleceu que a lei nacional tem primazia sobre as diretrizes comunitárias – Merkel disse que “não é apenas um problema jurídico, mas também político”.
A chanceler alemã garantiu que, durante o debate realizado na quinta-feira pelos dirigentes europeus sobre a questão, houve um “amplo acordo” sobre qual “a forma correta” de resolver o problema.
“Precisamos sair desta espiral” de confronto, concluiu Merkel.
No final da reunião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que “uma cimeira sem Angela é como Roma sem o Vaticano ou Paris sem a Torre Eiffel” e o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, disse que a saída de Merkel provocará “uma grande lacuna” na Europa, definindo a líder alemã como “uma máquina de concessões”, enquanto o chanceler austríaco, Alexander Schallenberg, a classificou como “um refúgio de paz dentro da UE”.
Costa assiste “com tristeza” à despedida de Merkel do Conselho Europeu
O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje assistir “com tristeza” à despedida da chanceler alemã, Angela Merkel, do seu último Conselho Europeu, caracterizando como “decisivo” o seu trabalho nas várias fases da construção da União Europeia (UE).
“Houve momentos decisivos no processo de construção europeia que felizmente vivemos juntos e onde o contributo dela foi absolutamente decisivo, [como] aconteceu na crise migratória de 2015, onde seguramente sem a senhora Merkel da UE não teria estado à altura da resposta que deu para cumprir os seus deveres de assegurar a proteção internacional a quem dela necessitava”, começou por elencar o chefe de Governo.
Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas, no final de um Conselho Europeu marcado pela despedida de Angela Merkel após a participação em 107 cimeiras, António Costa destacou que a chanceler “foi imprescindível na construção da resposta ao covid-19, quer no processo de aquisição de vacinas, quer sobretudo em ter rompido o impasse no debate com os ‘frugais’ sobre o próximo Quadro Financeiro Plurianual”.
“E por ter conseguido não só desbloquear o quadro financeiro plurianual, como criar um plano de natureza extraordinária financiado com uma emissão comum dívida pela Comissão Europeia e que tem uma dimensão só comparável à do Plano Marshall”, acrescentou.
“Em todos estes momentos, “foi decisivo o trabalho da senhora Merkel e é por isso que, mais do que a ver como um monumento, a vejo com uma excelente colega e não posso deixar de dizer que tenho tristeza em vê-la partir, embora tenha também uma enorme esperança e confiança naquilo que será a contribuição do próximo chanceler”, adiantou o primeiro-ministro.
Comentários