O anúncio de Theresa May, esta terça-feira, 18 de abril, à porta do número 10 de Downing Street, surpreendeu o mundo. Amanhã, quarta-feira, a primeira-ministra britânica levará à Câmara dos Comuns uma moção que, caso seja aprovada, fará com que as próximos eleições gerais do Reino Unido não se realizem em 2020, mas sim a 8 de junho deste mesmo ano.
Por um Parlamento mais unido, contra jogos políticos e com o foco num Brexit - saída do Reino Unido da União Europeia - bem sucedido, foi assim que May justificou a decisão de pedir eleições antecipadas, uma vez que defendeu antes que o mandato seria para cumprir até ao fim.
Apesar de inesperado, o anúncio de May surge num momento favorável aos Tories (conservadores), que aparecem à frente em todas as sondagens mais recentes.
O próprio líder do Ukip reconheceu-o aquando da reação ao anúncio de Theresa May, esta manhã. “Damos as boas-vindas a uma Eleição Geral, mas não se deixem enganar - é claramente guiada pela fraqueza dos Trabalhistas, não pelo bem deste país”, escreveu Paul Nuttal na sua conta oficial de Twitter.
Salientando que “o Reino Unido vai sair da União Europeia e não há como voltar atrás”, o que May propõe nestas eleições é que todos os partidos coloquem em cima da mesa a sua visão sobre como o Brexit deve ser processado. Depois, cabe ao povo escolher, mais uma vez, o rumo da Nação.
"Os nossos opositores acreditam que, porque a maioria do Governo é pequena, a nossa determinação irá enfraquecer e que nos forçarão a mudar de caminho [em relação ao Brexit]. Estão errados. Eles subestimam a nossa determinação e eu não estou preparada para lhes permitir que coloquem em risco milhões de trabalhadores em todo o país", disse May, num discurso que poderá ler aqui na íntegra.
A referência à saída irreversível do Reino Unido do clube dos 28 - “o Reino Unido vai sair da União Europeia e não há como voltar atrás” - acabou por ficar perdida no meio de um curto mas intenso discurso e levou a que Douglas Carswell, deputado por Clacton pelo Ukip, partido de direita independentista, e cofundador do movimento de saída do Reino Unido da União Europeia, reagisse de forma concisa: “Se votou no Ukip em 2015, o trabalho está feito”.
Ainda sobre saídas, tirar os Tories do Governo parece praticamente impossível de acordo com as últimas análises. O The Guardian, por exemplo, numa sondagem feita pela ICM e publicada a seguir ao anúncio de eleições, coloca os Conservadores a liderar nas intenções de voto, com mais 18 pontos percentuais que os Trabalhistas. É este o panorama:
Conservadores: 44%
Trabalhistas: 26%
Ukip: 11%
Liberais Democratas: 10%
Os Verdes: 4%
O cenário repete-se, com pequenas variações, em outros inquéritos:
A ComRes, outra empresa de sondagens, numa análise para os órgãos de comunicação social britânicos Saunday Mirror e Independent, dá aos Tories uma vantagem ainda maior, de 21%.
Já o YouGov, que realiza sondagens para a revista Times dá uma percentagem de liderança aos Conservadores ligeiramente inferior - menos 1% - que a sondagem do The Guardian.
A sondagem que aproxima mais Tories e Labours (trabalhistas) é da autoria da Opinium, e ainda assim confere uma vantagem de 11% aos Conservadores (Conservadores 38%, Trabalhistas 29%, Ukip 14%, Liberais Democratas 7%).
Rumo à maioria inesperada de 2015
Apesar de Theresa May ter dito no discurso desta manhã que “foi com relutância” que decidiu partir para eleições antecipadas, a primeira-ministra parece ter tudo alinhavado para seguir as passadas de David Cameron rumo à vitória que, em 2015, foi acompanhada de uma inesperada maioria parlamentar, com 331 lugares em 650 disputados. Para governar com maioria absoluta são necessários 323 lugares. Os conservadores conquistaram, à data, quase mais 2 milhões de votos do que os Trabalhistas, que conseguiram 232 lugares. O Partido Nacional Escocês, de Nicola Sturgeon, estabeleceu-se como o terceiro partido mais votado.
Um dos responsáveis pela vitória de David Cameron em 2015 - que viria a renunciar ao cargo cerca de um ano mais tarde, face ao resultado do referendo do Brexit - foi um senhor chamado Sir Lynton Crosby, responsável pela campanha de Cameron há dois anos.
De acordo com o repórter da Bloomberg, Tim Ross, Theresa May já terá contratado Crosby para liderar a sua campanha nas próximas eleições gerais de junho.
O New Statesman revela ainda que George Eaton disse que Lynton Crosby avisou May que, de acordo com uma sondagem privada, se deveria preparar para perder 27 dos lugares ganhos aos Liberais Democratas há dois anos, também numa eleição antecipada.
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