Ouvida ontem por videoconferência por estar num convento de clausura, a irmã Ana Barbosa, de 66 anos, vê agora aberto pelo Ministério Público de Guimarães um inquérito, por existirem contradições entre declarações à Polícia Judiciária e as que foram agora feitas no julgamento, conta o Jornal de Notícias (JN). Contudo, a religiosa, advertida pelo tribunal, manteve as suas palavras.
Em causa no processo está a Fraternidade Missionária de Cristo Jovem”, instalada num convento em Requião, Vila Nova de Famalicão. Os arguidos são o padre fundador da instituição e três religiosas que asseguravam o funcionamento do convento e a educação e orientação vocacional das noviças que ali entravam para seguir uma vida de “entrega a Deus”. A instituição também é arguida. Respondem todos por nove crimes de escravidão.
“Cheguei a dar umas chapadas e mais nada”, tinha afirmado anteriormente, em abril deste ano, admitindo ainda que por vezes se poderia ter aborrecido ou zangado e, por isso, pediu “perdão”. No entanto, e apesar de jurar amar as noviças que se queixaram de maus-tratos, sempre adiantou que elas às vezes eram “porcas e mentirosas”, que não gostavam de trabalhar e não sabiam fazer nada.
Agora, frisou que "não viu nada de exageros" e que "era a mentalidade da época". Questionada sobre agressões que também teria sofrido, por parte do padre envolvido no processo, a irmã afirmou que "isso não foi nada".
Segundo a acusação, os arguidos resolveram angariar jovens para exercer todas as tarefas diárias exigidas para a conservação e manutenção das instalações da instituição e continuação da sua atividade, “sem qualquer contrapartida e mediante a implementação de um clima de terror”.
Para o efeito, acrescenta a acusação, cortaram-lhes qualquer capacidade de reação, utilizando-as como mera força de trabalho.
“Os arguidos tinham como alvo jovens de raízes humildes, com poucas qualificações ou emocionalmente fragilizadas e com pretensões a integrarem uma comunidade espiritual de raiz católica, piedosas e tementes a Deus”, refere ainda a acusação.
Os arguidos diriam às jovens que “tinham sido escolhidas por Deus, convencendo-as de que deviam seguir a vida religiosa”, e que, caso negassem as suas vocações, teriam castigos “divinos”, problemas familiares e mortes na família.
A acusação diz que, “pelo menos” de 5 de dezembro de 1985 até ao início de 2015, os arguidos sujeitaram as jovens, diariamente, a várias agressões físicas, injúrias, pressões psicológicas, tratamentos humilhantes, castigos e trabalhos pesados.
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