A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias, que indica que a análise às contas foi atribuída a Edígio Cardoso, antigo diretor da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística (UPFC) da Polícia Judiciária, que entretanto aposentou-se do cargo e agora trabalha enquanto perito independente.
A operação Tutti-Frutti iniciou-se em 2017 e foi tornada pública em 2018, estando em causa uma teia de crimes de corrupção, tráfico de influência e financiamento político, decorrentes da contratação de pessoal e da adjudicação direta de serviços a empresas ligadas ou controladas por dirigentes políticos, sobretudo do PSD e do PS.
Foi no ano em que se iniciou a operação que o processo deu entrada na UPFC, à época liderada por Egídio Cardoso. No entanto, indica o JN, ao longo de dois anos, o elemento da PJ nunca nomeou oficialmente um perito para o caso, tendo abandonado o cargo no início de 2019 sem tê-lo feito.
Isto ocorreu, apesar da solicitação de várias análises bancárias pela unidade e da PJ ter feito buscas ao PSD e ao PS em 2018, assim como a juntas de freguesia e câmaras municipais ligadas a estes partidos.
O MP pediu, por ocasião destas buscas, à UPFC a perícia oficial a dezenas documentos bancários e contabilísticos relativos às entidades e indivíduos envolvidos. No entanto, diz o JN, no mês passado o MP afastou a UPFC das investigações, alegando “atrasos nas perícias”.
A Procuradoria-geral da República justificou a transferência da perícia da PJ para Egídio Cardoso, dizendo que “o MP toma as medidas adequadas e previstas na lei para salvaguardar o melhor andamento dos processos de investigação”, mas não revelou o valor pago ao perito. Segundo o JN, o custo regulamentado por lei para perícias e exames financeiros e contabilísticos da unidade especializada da PJ é de cerca de 70 euros por hora.
Da parte da PJ, a Direção Nacional optou por não comentar o caso.
Um dos principais visados na operação é o social-democrata Carlos Eduardo Reis, conselheiro nacional do PSD e ex-presidente da JSD de Braga, dono de uma empresa da área da jardinagem e que controla várias empresas que ganharam adjudicações diretas de autarquias controladas pelo PSD e também pelo PS.
Outros dos visados de maior perfil, indica o JN, são Sérgio Azevedo, de 38 anos, deputado do PSD na Assembleia da República e Luís Newton, de 41, atual presidente da Junta de Freguesia da Estrela em Lisboa, eleito pelo PSD.
A PJ realizou cerca de 70 buscas em 2018, incluindo a autarquias, sociedades e instalações partidárias, no continente e no arquipélago dos Açores. No âmbito deste inquérito, segundo a PGR, investigaram-se crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido.
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