“As questões que coloquei é se tinha condições para assumir o lugar, tendo em conta até que vive em Trás-os-Montes, o que tem implicações da parte logística. Questionei também se tinha algum processo e [Carla Alves] deu-me conta de que havia um processo que envolvia o marido, mas não tinha implicações com ela própria”, afirmou Maria do Céu Antunes, que falava aos deputados na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas.
A governante está a ser ouvida no parlamento sobre a polémica em torno de Carla Alves, na sequência de requerimentos dos grupos parlamentares do Chega, Iniciativa Liberal (IL) e do PSD, bem como da deputada única do PAN.
Perante isto, a ministra entendeu que Carla Alves tinha condições para substituir Rui Martinho no cargo, que já tinha solicitado a sua saída por motivos de saúde.
Maria do Céu Antunes justificou a escolha de Carla Alves com o conhecimento que a engenheira possui dos dossiers do Ministério da Agricultura, onde já se encontrava desde 2018.
“Atendendo a que estamos num novo ciclo de programação, partimos do princípio que temos um ciclo para fechar, estamos numa crise social, económica e ambiental, onde a agricultura tem prestado os melhores referenciais de serviço público, precisávamos de uma pessoa que conhecesse os dossiers e pudesse pegar neste lugar”, justificou.
Durante a sua intervenção inicial, a governante esclareceu que foi confrontada com a questão por um órgão de comunicação social na noite da nomeação da mesma.
Na sequência, voltou a questionar a então secretária de Estado, que reafirmou que o processo era do marido.
“Soubemos que havia uma conta conjunta e que tudo tinha sido declarado. Foi essa a informação que passámos ao órgão de comunicação social, que não foi tida em conta”, referiu Maria do Céu Antunes, acrescentando ter ficado surpreendida com a notícia do Correio da Manhã.
Assim, reiterou que, à data da nomeação, não sabia de qualquer processo judicial que envolvesse Carla Alves.
A ministra garantiu ainda que, após a notícia ter vindo a público, dirigiu-se, imediatamente, à secretária de Estado para esclarecer esta situação.
Nesse mesmo dia, Carla Alves esteve ainda reunida com membros do gabinete do primeiro-ministro, António Costa.
“Chegámos à conclusão de que, de facto, há um processo do marido que diz respeito à suas funções de autarca. Quem teve acesso a toda a informação, o Ministério Público, não acusou a secretária de Estado”, sublinhou.
Maria do Céu Antunes, que considerou esta “uma questão encerrada”, notou também que “a avaliação política foi feita pela própria” Carla Alves, que entende não ter condições políticas e pessoais para continuar no cargo.
Em 05 de janeiro, um dia após tomar posse, Carla Alves apresentou a sua demissão por entender não dispor de “condições políticas e pessoais” para iniciar funções, depois de o jornal Correio da Manhã ter noticiado o arresto de contas bancárias conjuntas que a então secretária de Estado da Agricultura tinha com o marido.
O Ministério Público acusou de vários crimes e mandou arrestar bens do advogado e antigo autarca socialista, que saiu da liderança do município em 2017, num processo de mais de 4,7 milhões de euros que tem mais três arguidos.
Horas antes de ser conhecida a demissão, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha considerado que Carla Alves tinha uma “limitação política”.
O primeiro-ministro, António Costa, assegurou que mantém a confiança política em Maria do Céu Antunes, numa altura em que tem lidado com várias demissões no seu Governo.
Comentários