O ministro da Cultura de Portugal falava aos jornalistas no final da reunião de hoje do Diálogo 5 + 5, dos ministros da Cultura, que se realizou na sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda, em Lisboa, e que juntou Portugal, Espanha, França, Itália, Malta, e também Líbia, Argélia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia.
A Líbia enviou um representante e não o seu ministro, mas Castro Mendes realçou a participação deste Estado, como um “muito bom sinal”.
“A Líbia é um país dos nossos, dos mediterrânicos, e por conta de todas estas vicissitudes, merece uma saudação especial”, disse o ministro português, numa referência à situação de conflito que o país norte-africano.
Castro Mendes afirmou que, desde a reunião efetuada em fevereiro do ano passado, em Tunes, “passou-se do processo de diálogo político-diplomático e começámos a construir projetos concretos à volta das grandes ideias contidas na ‘Declaração de Lisboa’ [saída hoje da reunião], que cria uma rede de pontos focais que vão trabalhar sobre as propostas concretas apresentadas pelos ministros presentes, e que vão desde festivais de cinema e de música, [a] ações comuns no domínio do património, [e à] promoção de encontros de juventude”.
Na reunião de hoje, que Castro Mendes qualificou como “proveitosa”, foi decidida a “criação de uma rede, não de um secretariado, nem de uma estrutura pesada, mas de uma rede de pontos focais que vão trabalhar sobre propostas concretas”, entre as quais a de um seminário para quadros do setor cultural, em França, um festival de cinema em Marrocos, um programa de traduções de obras literárias clássicas dos dez países que constituem o grupo, a de uma biblioteca digital, “que possa reunir este acervo cultural e também um trabalho comum na área da cultura digital”.
Em Portugal, “estando já a trabalhar no património”, nomeadamente nos campos arqueológicos em Mértola e em Loulé, é uma área “em que há muito que trabalhar e trocar”, reconheceu o ministro, que referiu ainda “a área da música, em que há músicos prontos a aparecer nesses países, o que já se faz”.
“Mas queremos fazê-lo de uma maneira mais institucionalizada e regular”, sublinhou.
O ministro português afirmou que a reunião de hoje expressou “uma necessidade de um diálogo cada vez mais forte entre os países mediterrânicos da Europa e do Norte de África de ir contra as tendências xenófoba, identitárias, das tendências fanáticas e fanático-religiosas; e tudo isso tem de ser combatido através de um melhor conhecimento dos países entre si”.
“Portugal tem uma tradição da presença do mundo islâmico no seu território, tem tradição que vem da cultura islâmica, tem património imaterial que vem também do mundo islâmico, e, sobretudo, uma base na população [tem] uma grande herança desse passado comum com a África do Norte, que já desde os Romanos era um espaço comum, a África do Norte e a Europa Mediterrânica”.
A reunião de hoje contou ainda, como observadores, com representantes da Comissão Europeia em Portugal, do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e da União para o Mediterrâneo e da Fundação Anna Lindh para o Diálogo entre Culturas.
Na Declaração de Lisboa, lê-se a decisão de “identificar um ponto focal permanente nos ministérios da Cultura de cada país do ‘Diálogo 5+5′, para facilitar o diálogo e a partilha de informações”, e também a vontade em “estabelecer uma lista de práticas e intercâmbios culturais, especialmente entre os jovens, de forma a construir uma base de discussão sobre as realidades e necessidades da cooperação cultural em ambos os lados do Mediterrâneo Ocidental, com o objetivo de desenvolver ações concretas”.
Entre as 14 propostas da Declaração de Lisboa, os ministros querem o reconhecimento do “uso da Internet como uma ferramenta de informação e divulgação cultural, em particular, através do uso dos ‘sites’ institucionais dos ministérios da Cultura de cada um dos países do ‘Diálogo 5 + 5′, no pleno respeito pelo direito de autor, permitindo a valorização do conteúdo cultural comum como promotor do diálogo intercultural”.
A promoção de “missões de profissionais, em particular de jovens” em formações sobre salvaguarda, conservação, restauração e valorização do património cultural”, a promoção de rotas turísticas, culturais e “património cultural comuns existentes em cada país e na região do Mediterrâneo Ocidental, capazes de unificar as culturas, como a Dieta Mediterrânea declarada pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade”, e “incentivar o desenvolvimento de projetos arqueológicos comuns, nomeadamente sobre arqueologia subaquática, associados a projetos de valorização do património”, são algumas das propostas apresentadas.
Segundo o texto da Declaração, os ministros querem a facilitação e apoio à “mobilidade dos atores culturais nos países do Mediterrâneo Ocidental, particularmente através do desenvolvimento de residências artísticas para os jovens”; a criação de um festival de cinema do ‘Diálogo 5+5′ centrado em jovens realizadores”, e “a colaboração no domínio da restauração do património cinematográfico e audiovisual”.
“Incentivar a tradução de obras literárias, conforme acordado na reunião de Tunes, assim como a circulação de obras e de autores; estudar a viabilidade de criar uma biblioteca digital de autores clássicos dos países do ‘Diálogo 5+ 5′, respeitando o direito de autor, visando o desenvolvimento e a divulgação de uma coleção do Mediterrâneo Ocidental acessível em linha e incentivar a partilha de experiências e conhecimento em matéria de digitalização de arquivos de natureza cultural”, e “facilitar o conhecimento mútuo das artes performativas em toda a sua diversidade, bem como a música dos países”, através da organização de concertos e espetáculos envolvendo artistas de diferentes nacionalidades”, são outras das propostas apresentadas.
Além de “organizar pelo menos uma reunião anual entre os pontos focais permanentes, a nível técnico, para assegurar o acompanhamento dos resultados da reunião dos ministros”, os ministros do Diálogo 5 + 5 passam a reunir uma vez por ano, e a Lisboa, seguir-se-á, em 2019, em data a anunciar, um encontro na Argélia.
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