“A guerra maior é mesmo a da luta pela nossa sobrevivência enquanto espécie e esse é e será sempre o combate às alterações climáticas”, declarou o ministro do Ambiente e da Ação Climática.
João Matos Fernandes falava na entrega do 28º Prémio Defesa Nacional e Ambiente, que foi atribuído ao Centro de Informação Geoespacial do Exército, em Lisboa.
“E sim, eu tenho receio que a guerra faça com que alguém se distraia. Por razões tão simples como estas: é obvio que eu percebo muito bem a decisão dos governos europeus de investir mais na Defesa e de investir mais na Defesa por uma razão de preservação do sistema social, da democracia liberal em que vivemos e gostamos tanto de viver”, disse.
No entanto, Matos Fernandes mostrou “muito receio que, por exemplo, esse investimento desvie algum do dinheiro que é essencial para que se continue a promover a adaptação do território às alterações climáticas” em países “que não têm culpa nenhuma daquilo que são essas mesmas alterações climáticas e são com quem elas mais sofre, mormente, no continente africano”, vincando que “Portugal não o vai fazer”.
“É este o nosso compromisso: com a neutralidade carbónica do nosso país em 2050 e o sabermos que nenhum país consegue aquilo que deseja sozinho quando se fala em combater as alterações climáticas, independentemente do seu tamanho (…) e por isso temos que saber apoiar quem mais precisa fora de portas”, sublinhou.
O ministro do Ambiente acrescentou que se o papel do Governo, das empresas e de cada um dos cidadãos é importante para o combate às alterações climáticas, “o papel da entidades públicas, e dentro delas o das Forças Armadas não é em nada menos relevante que estes outros”.
Também o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, alertou para a importância das preocupações ambientais.
“Neste atual contexto geopolítico que é tão difícil, tão complexo, com uma guerra na Europa a transformar de forma irreversível a ordem de segurança internacional, o desafio das alterações climáticas e o seu impacto na segurança global, e em concreto nas operações militares e de apoio a emergências civis, corre o risco de ser remetido para as margens da nossa consciência, tal como referiu o senhor ministro do Ambiente, mas é vital que esse desafio permaneça no centro das nossas preocupações”, sublinhou.
Gomes Cravinho acrescentou que o conflito atual “é bem revelador do risco para a segurança europeia que corremos com um excesso de dependência energética de terceiros, neste caso a Rússia, num setor estratégico que é fundamental para a proteção dos cidadãos e da nossa qualidade de vida”.
“Temos urgentemente de alterar esse modelo de dependência, dando prioridade acelerada à diversificação de fontes de energia com recurso a parceiros internacionais confiáveis, à eficiência na sua utilização e à redução da dependência de energias fósseis, que nos tornam extremamente vulneráveis a alterações geopolíticas e geoeconómicas exatamente como aquelas que atravessamos”, disse.
O ministro da Defesa considerou necessário “incorporar na missão da Defesa Nacional” e nas parcerias internacionais “a compreensão de que as alterações climáticas são um fator de aceleração de conflitos com um enorme impacto e potencial disruptivo para as nossas sociedades e para a segurança coletiva”.
“Temos de integrar no nosso planeamento e na nossa cultura estratégica a noção de que as alterações climáticas são propiciadoras de catástrofes naturais que, com muita probabilidade, levarão à multiplicação de missões de emergência civil, em Portugal e noutras partes do mundo, missões para as quais as Forças Armadas serão cada vez mais chamadas a desempenhar um papel fundamental de apoio”, disse.
O 28º Prémio Defesa Nacional e Ambiente foi entregue à candidatura apresentada pelo Centro de Informação Geoespacial do Exército, denominada ‘Sustentabilidade energética do CIGeoE’, “pelo seu contributo exemplar para a integração das preocupações ambientais na atividade militar”.
Este prémio, criado em 1993, distingue anualmente “a unidade, estabelecimento ou órgão que se destaque no contributo prestado para a qualidade do ambiente, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, através da utilização eficiente dos recursos naturais, da promoção de boas práticas de gestão de ordenamento do território, da proteção e valorização do património natural e paisagístico e da biodiversidade”, informa a tutela.
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