A romaria, com 200 anos, tem início na quinta-feira e termina em 8 de setembro, é promovida pela Confraria da Nossa Senhora da Peneda, com o apoio da Câmara de Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo.

Em declarações à agência Lusa, César Maciel, capelão do Santuário de Nossa Senhora da Peneda, situado na freguesia da Gavieira, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), explicou que no dia 05 de setembro a missa das 09:30 é celebrada em português e a das 12:00 em castelhano, por um pároco espanhol convidado para o efeito.

Às 21:00, são benzidas as gaitas de foles, instrumento típico da Galiza cada vez mais utilizado no Alto Minho, naquela que é conhecida localmente como a noite dos espanhóis.

“A bênção das gaitas de foles acontece há dois anos, mas a participação dos vizinhos da Galiza na Romaria da Senhora da Peneda é imemorial. A maioria das festas na Galiza começa no dia 08 de setembro. Antigamente, e mesmo agora, os romeiros vinham a pé, por caminhos trilhados no monte, porque não existiam estradas. Chegavam à Romaria da Senhora da Peneda na noite do dia 04 de setembro, pernoitavam junto ao santuário e, depois dos festejos do dia 05, regressavam às suas aldeias a tempo das romarias locais”, explicou César Maciel, padre há 15 anos e capelão do santuário há três.

Pelos mesmos caminhos percorridos pelos vizinhos da Galiza, sinalizados e que durante o ano servem de trilhos para os amantes da natureza, chegam romeiros de Sistelo, aldeia monumento nacional considerada o pequeno Tibete português, de Melgaço, Paredes de Coura e Ponte da Barca, e de outras zonas.

“A romaria é marcada pela espontaneidade. As pessoas unem-se livremente. Tocam e dançam, sem nenhum tipo de organização. Os dias 5 e 6 de setembro são os dias fortes dos bailes populares. No primeiro dia são benzidas as gaitas de foles e no dia seguinte as concertinas. A festa simplesmente acontece no terreiro, com música popular. Concertinas, castanholas e gaitas de foles ouvem-se toda a noite numa tradição secular, bem representativa das relações ancestrais entre os dois povos vizinhos”, destacou César Maciel.

O concerto “Músicas à Senhora”, iniciado há seis anos, conta no dia 2 de setembro com a atuação de Ana Bacalhau.

Celebrações religiosas, procissões e orações de vésperas, orações de Laudes, via-sacra e exposição do Santíssimo, bem como o hino Akathistos em honra da virgem, Mãe de Deus, são outros dos momentos religiosos das festas.

Este ano, a festa que segue a tradição das grandes peregrinações marianas “tem ainda mais significado” por estar em fase de final a sua classificação como Património Cultural Imaterial, tal como a classificação do Santuário de Nossa Senhora da Peneda como Monumento Nacional.

Elevado a santuário em 2020, foi construído no século XVIII junto a uma cascata e ao penedo das Meadinhas, sendo constituído pela igreja, terminada em 1875, pelo grande terreiro dos evangelistas e pela escadaria das Virtudes (com as imagens da fé, esperança, caridade e glória), com cerca de 300 metros. Nas suas laterais existem 20 capelas que retratam cenas da vida de Cristo e os quartéis, atualmente transformados em alojamento de peregrinos.

Sem carrosséis ou farturas, romaria é a mesma há 200 anos

Sem carrosséis ou farturas, a Romaria em honra de Nossa Senhora da Peneda, em Arcos de Valdevez, mantém “a mesma essência há 200 anos”, aspeto considerado diferenciador para a classificação, em fase final, como Património Cultural Imaterial.

Em declarações à agência Lusa, o diretor da Casa das Artes, em Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, Nuno Soares, adiantou hoje que a candidatura “já foi validada, aguardando apenas a assinatura do ministro da Cultura e a publicação em Diário da República”.

A romaria, com 200 anos, decorre entre quinta-feira e 08 de setembro e é promovida pela Confraria da Nossa Senhora da Peneda, no Santuário da Senhora da Peneda, na freguesia da Gavieira, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).

Um "dos aspetos diferenciadores que conduziu à classificação é que uma parte substancial está relacionada com a metodologia da festa que mantém a sua essência original. Toda a estruturação etnográfica é um primitivo atual e isso faz toda a diferença”, afirmou Nuno Soares.

“Não há carrosséis, farturas e música a não ser popular. É uma experiência de comunhão com o sagrado e o profano, e com um espaço de grande misticismo e de beleza atroz”, frisou Nuno Soares.

O diretor da Casa das Artes adiantou que a Confraria da Nossa Senhora da Peneda “rompeu com o que grande parte dos momentos que as romarias da região apresentam, mantendo a ancestralidade da festa”.

“As romarias começam a receber aculturações e a ficar muito pressionadas por dinâmicas de consumo. Mas na Peneda, o ritual que rodeia a romaria é, em tudo, similar ao que aconteceu nos últimos 200 anos, o período temporal que abrange as várias fases de construção do santuário”, sustentou.

Segundo o responsável, “existem referências em muitos clássicos da literatura local e regional que referem a Peneda como a maior romaria do Alto Minho, por decorrer durante sete dias”.

“Se concentrássemos as pessoas que passam durante os sete dias da romaria, tal como todas as romarias marianas realizadas em setembro, a da Senhora da Peneda é a maior de todas. Atraia pessoas de todos os lados do país e da Galiza”, acrescentou.

Nuno Soares destacou que a deslocação ao Santuário da Peneda “implica um esforço enorme”.

“Não é um local onde passe uma autoestrada. Viaja-se por uma estrada, em PNPG, num espaço belíssimo, mas inóspito”, referiu.

Outro dos pontos “diferenciadores” que sustenta a classificação nacional da romaria é a ‘roda’ gigante que ocupa quase todo o terreiro, junto ao Santuário de Nossa Senhora da Peneda.

“É uma celebração que acontece no grande terreiro que está na base do santuário. É como se a parte religiosa, a capela e a escadaria das Virtudes até ao templo ficasse apenas presente e a parte pagã tomasse conta do terreiro, onde se juntam comunidade e párocos num momento de partilha de emoções”, contou.

São designadas por ‘rodas’ porque no centro ficam os tocadores de concertina a que se juntam os bailarinos, dançando em círculo, aos pares. A ‘roda’ vai crescendo à medida que novos pares se juntam, ao ritmo do marcador, o dançarino que vai indicando os passos e o sentido que a ‘roda’ deve tomar.

A linguagem coreográfica difere de região para região, podendo ser verbal, gestual ou corporal, mas é fundamental, tal como a prestação dos músicos, a tocar ao vivo, e dos bailarinos, para o sucesso das danças tradicionais.

O património arquitetónico, histórico e as paisagens naturais contribuíram também para a classificação nacional.

O penedo das Meadinhas, que sobressai na paisagem junto ao santuário, é um dos locais de treino radical identificado por profissionais, antes da participação em escaladas mundiais.

A Romaria atrai milhares de peregrinos até ao alto da montanha, entre eles, muitos oriundos da Galiza, em Espanha.