“Se o cidadão não consegue exercer os seus direitos, então isto é pior do que um estado de guerra. Estes aqui é que são os verdadeiros terroristas. Em Cabo Delgado temos insurgentes, mas aqui em Maputo, nas forças de defesa e segurança, é onde nós temos os verdadeiros terroristas”, disse Mondlane, em declarações aos jornalistas pouco antes de ele próprio ser alvo do gás lacrimogéneo lançado pela polícia.
A capital moçambicana está a ser palco de confrontos entre manifestantes, que atiram pedras e incendeiam pneus nas ruas perto da Avenida Joaquim Chissano, e a polícia, que está a dispersar os populares com recurso a gás lacrimogéneo e tiros para o ar.
Na sequência da resposta da polícia, pelo menos três jornalistas ficaram feridos.
Mondlane considerou que os manifestantes estão a cumprir o seu papel, mas a polícia não.
“O problema deste país não está com o povo, o verdadeiro vandalismo está com as forças de segurança, com as lideranças das forças de segurança que não têm nenhuma perceção cívica, política, não sabem o que são direitos fundamentais, não sabem o que são os direitos constitucionais”, acusou, defendendo que “a manifestação é um direito cívico, não é vandalismo”.
“Estamos todos de parabéns, o povo moçambicano está de parabéns, é um sinal que mostra a capacidade de a gente se mobilizar para lutar pelos nossos direitos e eu creio que quando anunciarmos a segunda etapa vai ser muito mais interessante do ponto de vista cívico e politico do que foi agora”, acrescentou o candidato.
Mondlane referiu que a manifestação de hoje foi a etapa “mais branda”, prometendo mais três fases de protestos até à proclamação dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro pelo Conselho Constitucional.
Em declarações à Lusa, Glória Filipe Guande, que tentou participar na marcha, relatou que estava ao telefone quando as forças policiais “começaram a lanças gás”.
“Nós não reagimos, eles é que começaram a provocar-nos”, acrescentou.
Outro manifestante, que foi atingido por gás lacrimogéneo lançado pela polícia, referiu que a atual situação em Moçambique “é uma vergonha â escala mundial”, onde de “mata um advogado”.
“A polícia está a fazer esta pouca vergonha”, disse, referindo-se à atuação das forças de segurança.
A Polícia moçambicana lançou gás lacrimogéneo contra o local onde o candidato presidencial Venâncio Mondlane fazia declarações aos jornalistas a apelar à calma no âmbito da marcha que convocou, obrigando o político a fugir.
O candidato falava com os jornalistas junto à rotunda da Organização das Mulheres Moçambicanas, no início da Avenida Joaquim Chissano, no centro de Maputo.
Cerca das 10:00 locais (09:00 em Lisboa), a polícia dispersou a manifestação no centro de Maputo convocada por Mondlane repudiando o homicídio de dois apoiantes, carregando sobre dezenas de pessoas que se concentraram no local, que responderam com o arremesso de pedras e com o lançamento de artefactos pirotécnicos.
Os confrontos entre a polícia e os manifestantes começaram cerca das 07:30, com a força policial a dispersar os grupos que se começavam a juntar para participarem nas marchas pacíficas.
A polícia está também a recorrer a elementos com cães e um helicóptero tem estado a sobrevoar a baixa altitude as zonas onde as pessoas tentam manifestar-se.
A polícia moçambicana confirmou no sábado, à Lusa, que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoia Mondlane, mortos a tiro, foi “emboscada”.
O crime aconteceu na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e segundo a polícia uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o hospital.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após concluir a análise, também, de eventuais recursos, mas sem prazo definido para esse efeito.
*** Paulo Julião (texto), Estêvão Chavisso (vídeo) e Luísa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***
PVJ // VM
Lusa/Fim
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