Os estudos realizados permitiram determinar que há “116 espécies de pragas consumidas pelos morcegos”, entre as quais se destacam a traça-da-oliveira (Prays oleae), a mosca-de-asa-manchada (Drosophila suzukii), a traça-da-uva (Lobesia botrana), a lagarta-do-sobreiro (Lymantria dispar), o bichado-da-castanha (Cydia fagiglandana), a lagarta-do-tomate (Helicoverpa armigera) e a processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa)”.
O projeto surgiu em 2017 de uma parceria entre o Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), com o “propósito de averiguar a utilidade dos serviços dos ecossistemas prestados pelos morcegos na proteção da agricultura em Trás-os-Montes”.
O objetivo primário, como explicam os autores nas conclusões disponibilizadas à Lusa, foi “potenciar o controlo biológico por morcegos de pragas da vinha, olival e sobreiral, permitindo aos produtores reduzir os gastos com pesticidas”.
A ideia foi inspirada em estudos prévios realizados no delta do Ebro, em Espanha, e consistiu na colocação de caixas-abrigo para morcegos em postes de madeira em 42 propriedades agrícolas do parque que se estende pelos concelhos de Alijó, Murça, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Mirandela.
Depois da adesão dos proprietários dos terrenos com a ajuda das associações florestais Aflodounorte e Silvidouro e dos equipamentos necessários, deu-se início, em março de 2017, à monitorização das caixas para verificar a ocupação por morcegos e recolha de fezes para análise laboratorial da dieta destes animais.
A ocupação começou nos 27% e atingiu os 90%, segundo os dados revelados, que salientam que entre junho e julho de 2018 “foram encontradas, pela primeira vez, no projeto colónias com crias e juvenis no interior das caixas-abrigo, representando um passo importante na fixação das populações nas caixas”.
Em 2019, os técnicos conseguiram determinar, com base em análises laboratoriais das fezes, que há 116 espécies de pragas que fazem parte da dieta dos mesmos.
“No geral, e com base nos resultados, quer de ocupação das caixas-abrigo, quer das análises laboratoriais das amostras de 1.206 fragmentos de guano, o projeto apresentou um balanço positivo, comprovado pela elevada taxa de ocupação (cerca de 90%), bem como pela abrangência de espécies praga consumidas, assim o potencial de controlo biológico dos morcegos revelou ser notório, o que representa a concretização dos objetivos primordiais do projeto”, concluem.
Os resultados evidenciam que “os morcegos conseguem ocupar as caixas rapidamente, responder a surtos de pragas e alimentar‐se de centenas de diferentes espécies de insetos, incluindo importantes pragas”.
O projeto inicial, que tinha a duração de três anos, terminou e os técnicos vão deixar de “monitorizar mensalmente as caixas-abrigo”, no entanto, está prevista “a manutenção anual” destes equipamentos.
Os autores do estudo salientam ainda “que os morcegos continuam a fazer o seu papel, ao controlar com maior eficácia o impacto das pragas, e assim, reduzir o uso de pesticidas”.
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