O médico pediatra e vice-prefeito do município brasileiro de Goioerê, no estado do Paraná, ficou gravemente ferido, a 4 de outubro, depois de ter sido atropelado pelo próprio carro, de acordo com o G1.
O acidente aconteceu quando Adilson Pessoa Corpa, de 74 anos, chegou a casa e saiu do carro para tentar apanhar o cão da família, que tinha fugido. O veículo estava ligado e acabou por se mover por não estar travado, deixando o médico entre a viatura e um portão.
Como consequência do acidente, o pediatra ficou com os pulmões perfurados pelas costelas e foi submetido a uma cirurgia para expandir o órgão, bem como a uma outra para retirar o baço. Até à madrugada desta terça-feira, 16 de novembro, Adilson esteve internado em cuidados intensivos, mas a sua situação chegou a ser considerada estável e nos últimos dias parecia dar sinais de recuperação. Contudo, veio a falecer no Hospital Paraná, em Maringá, "por complicações de uma infeção generalizada decorrente do acidente".
Ao SAPO24, João Batista, pai de Lucas, o menino brasileiro que terá sido curado por intercessão dos então beatos Francisco e Jacinta Marto e cujo milagre conduziu à canonização dos santos portugueses, conta que "o Dr. Adilson era intensivista na Santa Casa de Campo Mourão" na altura do acidente e que "acompanhou a evolução clínica" da criança, sendo posteriormente "depoente no processo de canonização dos pastorinhos, em 2016".
"Ele disse na época que o caso era muito grave, que nos preparássemos para o pior", recorda João. Porém, a recuperação havia de trazer uma reação diferente por parte do médico — a "perplexidade", tendo mesmo chegado a ficar "emocionado com a recuperação do quadro [clínico]" da criança.
Para o pai de Lucas, as palavras de Adilson Pessoa Corpa sobre o que aconteceu vão ficar gravadas para sempre: "eu não tenho dúvida de que a recuperação do seu menino é um milagre. Já vi muitos na minha vida médica, mas o do Lucas foi marcante", terá dito.
Em maio de 2017, na altura da canonização, o médico, que se assumia católico, resumiu também a sua opinião sobre o caso numa reportagem: "só a medicina não teria dado conta de resolver esse caso do menino". E pelo menos mais quatro médicos envolvidos no processo disseram o mesmo, conta João.
Na região, Adilson não era apenas o médico ou o vice-prefeito. Era também o pediatra que tinha estado a acompanhar esta criança. "Ouvi muitos relatos de pacientes e pessoas aqui da minha cidade e da cidade dele sobre o envolvimento e a emoção dele em participar na recuperação do Lucas e no processo canónico. Ele relatava e testemunhava essa história que fez parte do currículo dele", garante.
A notícia da morte de Adilson é, para João Batista, algo difícil. "Recebi a mensagem com muita tristeza e mágoa por não conseguir ajudá-lo, assim como ele ajudou o meu filho. Fizemos grupos de oração com pessoas do Brasil e de Portugal, unidos pela recuperação, mas Deus o quis perto dele. Agora temos de rezar pelo descanso do nosso saudoso amigo".
Contudo, a morte não é o fim das memórias. Na vida da família de Lucas vai ficar para sempre "a alegria de ter conhecido e participado um bocadinho na vida desse profissional extraordinário e um grande amigo".
A história de Lucas, o "menino milagre"
Recentemente, em entrevista ao projeto Raízes de Fátima, João recordou o dia do acidente do filho, na altura com cinco anos. "Foi uma tarde de domingo [3 março de 2013], estávamos preparando para jantar, e o Lucas e a Eduarda [a irmã] tinham descido para brincar no primeiro andar, no apartamento onde mora o meu pai".
"Estavam brincando em cima do sofá, estava muito quente, e o meu pai abriu a janela e eles ficaram ali e não notaram que estava aberta. O Lucas foi-se apoiar na janela e caiu de uma altura de seis metros e meio e fez um traumatismo craniano na região do lóbulo frontal esquerdo, perdeu tecido cerebral", aponta.
Depois de contar o percurso de 76 quilómetros de ambulância até ao hospital em Campo Mourão, com a consciência de que a situação era grave, João lembra que "Deus foi maior e Francisco e Jacinta providenciaram o caminho e depois do acidente tudo deu certo", tendo o Lucas acordado da operação a que foi submetido sem qualquer sequela — apenas ficou com uma cicatriz na testa e com rinite.
Durante o acompanhamento médico, a criança sofreu duas paragens cardíacas enquanto era anestesiado para a cirurgia, tendo os médicos chegado a dizer que tinha poucas probabilidades de sobreviver — tal como o Dr. Adilson.
Com essa notícia, a família começou a rezar, pedindo a Nossa Senhora de Fátima e aos pastorinhos para salvarem Lucas. O mesmo fez uma comunidade carmelita local, o que levou a que o dito milagre fosse depois analisado para se proceder à canonização de Francisco e Jacinta Marto, que aconteceu em Fátima, a 13 de maio de 2017, na presença do Papa Francisco pelo Centenário das Aparições na Cova da Iria.
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