O estudo, que contou com a participação das investigadoras Paula Santana e Cláudia Costa, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da UC, centrou-se na análise da evolução das desigualdades na mortalidade nos Estados Unidos da América (EUA) em comparação com a Europa, entre 1990 e 2018, envolvendo cientistas de 15 universidades americanas e europeias.
Através de uma metodologia comum, a análise nos diferentes países foi efetuada por grupo de idade, sexo e nível de pobreza da área de residência, refere a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa. No caso da população americana, o estudo incluiu também as desigualdades étnicas.
“Em 1990, a mortalidade dos portugueses era muito distinta da dos outros países europeus, principalmente entre os mais jovens, tendo-se alterado rapidamente e em 2005 as taxas de mortalidade comparavam bem com as dos países mais ricos da Europa”, afirma Paula Santana, catedrática da UC e coordenadora do estudo relativo a Portugal.
Segundo os resultados do estudo – publicado hoje na revista da Academia Americana de Ciências, PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) –, na Europa “as desigualdades geográficas na mortalidade surgem, fundamentalmente, a partir dos jovens adultos”.
Ou seja, “tornou-se evidente que para as crianças e jovens as desigualdades na mortalidade não são influenciadas pela área de residência: áreas pobres e ricas apresentam os mesmos padrões de mortalidade”, referem, citadas pela UC, Paula Santana e Cláudia Costa, coautoras do artigo científico.
Comparando os EUA com a Europa, os resultados são desfavoráveis para os norte-americanos. O estudo indica que “em 1990 a esperança de vida dos americanos nas áreas mais ricas era ligeiramente inferior à esperança de vida à nascença dos europeus. No entanto, a esperança de vida era consideravelmente mais baixa para os americanos a residir nas áreas mais pobres. No caso da esperança de vida dos afro-americanos, verificou-se que era sempre mais baixa, quer em áreas ricas ou pobres, quando comparada com a dos americanos e a dos europeus”, declaram Paula Santana e Cláudia Costa.
A evolução parece, contudo, ter sido positiva ao longo do período analisado (1990-2018), observando-se que “em 2018 a diferença na esperança de vida entre americanos e afro-americanos diminuiu para quase metade, pela redução da mortalidade por tumores malignos, homicídios, SIDA e causas originadas no período fetal ou infantil. Esta diminuição teve uma expressão mais significativa nas áreas mais pobres e nos mais jovens”, relata Cláudia Costa.
Também se pode concluir que “os maiores ganhos em saúde, com reflexos no aumento da esperança de vida, se ficaram a dever à diminuição da mortalidade sensível aos cuidados de saúde, ou seja, causas de morte que foram evitadas pelo acesso adequado e respetiva resposta dos cuidados de saúde”, acrescenta.
Outra conclusão relevante sobre a realidade americana, de acordo com as investigadoras do CEGOT, é o facto de no período 2012-2018 se verificar “uma estagnação ou mesmo uma inversão na desigualdade, o que terá consequências na diminuição do fosso na esperança de vida entre americanos e afro-americanos. Esta evidência tem impactos negativos na tendência, que vinha a ser verificada, de diminuição da diferença na esperança de vida dos americanos e dos europeus, onde as taxas de mortalidade são mais baixas, independentemente do grupo etário, sexo e área de residência”, concluiu.
Porém, adverte, “apesar da melhoria da esperança de vida da população afro-americana, o decréscimo na mortalidade ainda não é suficiente, colocando os indicadores de saúde dos EUA, estudados neste artigo, numa posição desfavorável quando comparados com os da Europa”.
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