Segundo Maria Pevtchikh, uma assessora do opositor, Navalny deveria ter sido trocado ao lado de “dois cidadãos norte-americanos” detidos por Moscovo por um russo preso na Alemanha.
“Recebi a confirmação de que as negociações estavam em curso, já sem Navalny, e na sua fase final”, acrescentou Pavtchikh.
Washington e Berlim estavam ao corrente desta situação, afirmou, sem especificar exatamente qual o papel desempenhado pelos dois países nas discussões.
Depois de vários meses sem progressos, o acordo “voltou a ser posto em cima da mesa em dezembro” de 2023, disse Maria Pevtchikh.
Segundo a assessora, Vadim Krassikov, condenado a prisão perpétua pelo assassínio de um antigo separatista checheno num parque de Berlim em 2019, deveria ser incluído nesta troca de prisioneiros.
De acordo com os tribunais alemães, o assassínio foi ordenado diretamente pelas autoridades russas, que sempre negaram qualquer envolvimento.
Questionada pelos jornalistas, a porta-voz do governo alemão recusou-se a comentar as declarações da equipa de Navalny.
A Rússia detém vários cidadãos norte-americanos, entre os quais o jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich, preso desde março de 2023 por “espionagem” — acusação que, tal como o empregador e a família, é rejeitada — e um antigo fuzileiro naval, Paul Whelan.
As circunstâncias da morte de Navalny, que comoveu pessoas em todo o mundo, continuam por esclarecer. Segundo os serviços prisionais russos, morreu de doença súbita “após um passeio”.
Vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, acusaram o Presidente russo Vladimir Putin de ser o responsável.
Entretanto, em Moscovo, o Kremlin negou hoje qualquer pressão sobre o funeral de Navalni, que morreu na prisão a 16 de fevereiro, depois de o corpo do opositor ter sido entregue à sua mãe.
“O Kremlin não tem nada a ver com isto. Naturalmente, o Kremlin não pode exercer pressão. Esta é mais uma declaração absurda dos seus apoiantes”, disse o porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, na conferência de imprensa telefónica diária.
Peskov recordou que “praticamente todos” os aliados do falecido líder da oposição “são procurados no estrangeiro”.
Quanto à entrega do corpo, negou que Putin, a quem a mãe se dirigiu através de uma carta e de um vídeo no YouTube, tenha tomado a decisão de devolver o corpo à família.
“O chefe de Estado não participa nessas questões […]. Isso não nos diz respeito e não é nossa prerrogativa”, sublinhou.
A mãe, Liudmila Navalnaya, recebeu o corpo no sábado, nove dias depois de o seu filho ter morrido em circunstâncias estranhas numa prisão do Ártico, no Distrito Autónomo de Yamalo-Nenets.
“O funeral está à nossa frente, mas não sabemos se as autoridades vão impedir que se realize, como a família deseja e como Alexei merece”, disse Kira Yarmish, porta-voz do líder da oposição.
Os correligionários do opositor denunciaram que o Comité de Investigação Russo (RIC), um organismo diretamente dependente do Kremlin, lançou na sexta-feira um ultimato à família para impedir manifestações públicas de repúdio contra o Kremlin.
Liudmila Navalnaya recusou-se a negociar com o RIC, argumentando que os seus investigadores “não têm o poder de decidir como e onde enterrar o seu filho”.
Segundo a oposição, o Kremlin seria favorável a um enterro privado, à semelhança do que aconteceu em agosto com o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, cuja morte num desastre aéreo é também atribuída a Putin pelos críticos do Kremlin.
Nas redes sociais, especula-se desde sábado sobre a data, o local e o formato do funeral, que poderá atrair milhares de apoiantes de Navalny.
O funeral poderá coincidir com o discurso de Putin sobre o Estado da Nação perante as duas câmaras do parlamento na quinta-feira.
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