O mural intitulado por “Scratching the Surface” (“Arranhando a superfície”, em tradução literal) ilustra rostos de figuras do movimento Cleaners Action, associado à Casa de São Cristóvão, destacando Idalina Azevedo, uma das líderes da greve conhecida por ‘Wildcat’, nas Torres TD, em Toronto, em 1974, viabilizando alguns direitos para as empregadas de limpeza.
“Foi uma história que me tocou bastante. Decidimos fazer o mural, não só para as mulheres que ainda estão vivas, mas para todo este movimento que surgiu para criar melhores condições de trabalho da primeira vaga de imigração portuguesa para o Canadá”, disse Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils.
O artista plástico explicou que este mural “é muito especial” pois “foi a forma encontrada de homenagear não só a comunidade, mas também a sociedade onde se insere”.
Para a vice-presidente do Município de Toronto, Ana Bailão, esta obra reconhece uma parte “quase esquecida do movimento operário”.
“Estas mulheres, a maioria portuguesas, são uma inspiração, quando decidiram lutar contra os preconceitos anti-imigrantes e por melhores condições de trabalho, precisamente nos escritórios dos prédios na baixa de Toronto e no parlamento do Ontário”, frisou.
A antiga líder sindical Idalina Azevedo mostrou-se bastante emocionada no seu discurso, nesta homenagem, pois, como disse, “quase criaram o mural sem [ela] ter conhecimento”.
“Há 59 anos no Canadá, ainda não domino bem o inglês. O Canadá foi muito bom, mas é necessário habituarmo-nos. Tenho junto ao meu peito o nome de Portugal e do Canadá”, afirmou.
Idalina Azevedo, apesar da idade avançada, recordou ainda, com alguns sorrisos pelo meio, que quando “seis polícias” a quiseram prender, na altura do protesto, “acabaram por levar o patrão”.
Com responsabilidade na concretização deste projeto com Vhils, a adida cultural da embaixada de Portugal no Canadá, Rita Sousa Tavares, destacou a importância da arte urbana “passar estas mensagens para todos aqueles que passam junto ao mural”.
“Não é uma situação que ainda esteja resolvida a cem por cento. Se calhar está para a comunidade portuguesa, mas noutras comunidades que foram chegando e ocupando estes serviços de limpeza, existem ainda alguns constrangimentos”, lamentou.
A Associação Comercial do Little Portugal na Dundas espera que este mural seja “motivo de muitas conversas” para “reconhecer o trabalho “destas mulheres”.
“Elas [empregadas de limpeza, portuguesas] não eram reconhecidas, sem elas não íamos [a comunidade portuguesa] a lado nenhum. Foram extremamente importantes e continuam a sê-lo. São um marco na história e ficam aqui retratadas”, disse Anabela Taborda.
O cônsul-geral de Portugal em Toronto, José Manuel Carneiro, realçou que este mural “é uma prova do dinamismo da comunidade portuguesa no Canadá”.
“É uma comunidade que se afirma e que diz que estamos aqui, estamos integrados, mas, ao mesmo tempo, estamos a contribuir com algo que é nosso, para que este país também se afirme no mundo”, elogiou.
O projeto surgiu através da iniciativa da vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto, Ana Bailão, da Associação Comercial do Little Portugal na Dundas e da Embaixada de Portugal no Canadá.
Alexandre Farto (Vhils) nasceu em Lisboa, em 1987, terminou os seus estudos de Arte em 2008, em Londres, tendo iniciado a atividade como artista urbano em 1998, com a pintura de muros e comboios, na margem sul do rio Tejo.
O mural, o mais recente trabalho do artista plástico português, está localizado no número 1628 da Dundas Street West, em Toronto.
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